No momento que Maguila dá adeus à vida, seria desnecessário – ou redundante, sei lá – lembrar que o boxe deste país há de cultivar para sempre a imagem de um dos maiores pugilistas brasileiros de todos os tempos. Talvez irrelevante reprisar que José Adilson Rodrigues dos Santos, que se despediu nesta quinta-feira (24), aos 66 anos, colecionou importantíssimos vitórias na carreira. No entanto, uma encefalia traumática crônica – similar ao Mal de Alzheimer – o derrubaria lenta e irreversivelmente. Nosso primeiro campeão mundial dos pesos pesados, troféu comemorado em 1995, superou – por pontos – o britânico Johnny Nelson, pelo cinturão da WBF.
No ambiente nacional, Maguila acumulou um amplo cartel de 85 lutas, 77 triunfos (61 por nocaute), sete derrotas e um empate técnico. E mais: campeão brasileiro, sul-americano, latino-americano, pentacampeão continental e campeão das Américas. Não há como não apontar os duelos diante dos fortíssimos Evander Holyfield e George Foreman. Não havia mesmo como vencer as duas lendas.
PERFIL
O jeito simples e folclórico de Maguila sempre caracterizou um personagem do bem. Tanto nas entrevistas quanto na hora de levantar os braços, saltitar no ringue ou mandar curiosos recados ao dono da padaria ou aos amigos que o admiravam no relacionamento do cotidiano. Religioso: em 2000, a minha matéria, publicada na Gazeta Esportiva, trouxe na manchete O EVANGELHO, SEGUNDO MAGUILA. Afinal, ele não parava de reprisar versículos bíblicos que o motivavam demais e o estimulavam a manter posturas corretas.
Eu não conhecia Maguila pessoalmente. Um dia, cheguei ao centro de treinamentos no horário combinado. Haja paciência para me atender durante duas horas. Me surpreenderam a sabedoria humana e a inteligência de quem se impunha, entre outras coisas, pelo estilo brincalhão. Gostava de ensinar crianças pobres. Como na época em que, nos anos 1994/95 – se não me engano – comparecia frequentemente à Febem (que se transformaria na Fundação Casa) para cumprir o roteiro do então secretário de Esportes e Turismo, Fausto Camunha, voltado a comunidade carente. Fausto que, ontem, no começo da noite, me telefonou para sugerir um artigo que valorizasse a história de uma celebridade. É impossível, meu editor, descrever uma nobre figura igual ao Maguila. Vou tentar. Só me dê um tempinho. Mas, antes de concluir o texto, é provável que o nosso herói já esteja abraçado ao Eder Jofre no céu. Eu acho que sim.
Adeus, campeão.O Brasil te ama. Por Nelson Cilo
Jornalista há quatro décadas, cobriu pelo Diário da Noite, Estadão, Folha da Tarde e Gazeta Esportiva e também quatro Copas do Mundo e uma Olimpíada.
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