A guerra sempre parece estar bem próxima, e não é de hoje. Quer dizer, mais uma, porque elas nunca se encerram. Mas o bafo mais quente se acentua na nossa nuca a cada dia, em guerras particulares, muito além das muitas que estão no tabuleiro, e que parecem apenas esperar sua vez para entrar em cena
Terror, terrorismo, terroristas, as palavras e seus sentidos estão sempre sendo atualizadas, quem é um, quem é outro, os papeis se alternam de forma exponencial neste século. Esses dias se alteraram de forma mais clara ainda, e também os perigos de morte. Suas formas. Acrescente a balas perdidas, acidentes, estar na hora errada no lugar errado. Já não são mais terroristas suicidas paramentados com bombas em volta do corpo, em suas cinturas, prestes a encontrar virgens prometidas e Allah. São equipamentos digitais envenenados que explodem por ação remota de seus inimigos, aos quais pouco importa quem estará por perto. Uma ordem. Um OK. E o ao redor vai aos ares.
Quanto temíamos o tal botão vermelho, ou telefone vermelho, ou a tal pasta que o presidente mais poderoso do planeta carrega onde quer que vá e daria uma ordem mortal caso sentisse ameaça! Na imaginação, haveria um boom enorme, e uma bomba atômica eclodiria. Na realidade ninguém mais sabe qual exatamente pode ser essa ordem. De qual inteligência poderá vir, se artificial, humana, ou ambas em conluio.
A morte agora é um fantasma, veste outras roupas, usa a tecnologia (mais uma vez) para o mal. Os fantasmas invisíveis se multiplicam, pequeninos, espalhados, e ninguém mais pode garantir onde estão localizados, nem sequer como estão camuflados. Podem estar em letras impressas nas redes. Em ordens vindas dos que se autointitulam líderes, sejam autoridades, poderosos dirigentes de nações, milícias, chefes de organizações criminosas, hackers, disseminadores de mentiras, fabricantes de realidades inexistentes que ampliam em busca de seguidores, nas esquinas. Até nos aplicativos de relacionamento pode ser encontrada sem querer.
A natureza vem se rebelando, e também nos declara guerra, com o ar dos ventos e furacões; o fogo das queimadas; a água das inundações, ou da sua ausência, e ela é vida; a terra que treme, balançando, abrindo brechas, engolindo o que encontrar sobre ela.
É guerra feia. Claro, até porque nenhuma guerra pode ser bonita, e em todas embora apelem que a fazem por justiça, em qualquer dos seus lados serão dizimados inocentes, até porque também a Justiça muda seu sentido como camaleão. Já não se consegue discernir onde está a razão. Seus motivos se embaralham com a parcialidade, seja religiosa, política, busca de mostrar a força que dissemina ditaduras, o controle, o poder financeiro, a imposição do medo. Quem apoia quem, quem se dói se outro é atacado.
Como ficarmos e vivermos tranquilos, mesmo que longe dos bombardeios diários que sabemos ao longe, mas no mesmo planeta? Ou mais perto, sabendo que em um país vizinho são mantidos em cárcere e torturados centenas de pessoas, sob um inquietante silêncio de “democratas”? Que nas casas e em nossas ruas mulheres são perseguidas e mortas por quem alega amar demais, ter posse de suas vidas. Onde não se pode nem atravessar uma rua sem temer encontrar um veículo com um assassino desatinado na direção, com pressa.
Não há mais primavera árabe. Ali para aqueles lados a guerra corre solta, agora. Risca os céus. Explode nas mãos de quem porta equipamentos que podem estar dirigidos à distância. Hoje, amanhã e depois, sabe-se lá até quando. E até se um dia acabará nos envolvendo a todos do planeta dada sua escalada.
Até a mais linda das estações chega transtornada com as emergências climáticas que mudam o roteiro inclusive do nascimento das flores que a caracteriza. Pensamos em energia elétrica, mas de onde a tiraremos e a que preço? Já pensam novamente em mudar nossos horários, uma hora a mais, depois a menos, até o verão que se aproxima com fortes expectativas escaldantes.
Seguimos. É mesmo uma guerra esse dia a dia.
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marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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