Suspense: roubou ou não roubou? Ou tudo não passaria de incompetência dos juízes? No meu caso, acredito nas duas hipóteses. Nunca – mas nunca mesmo – vi tantos erros de arbitragens no atual futebol brasileiro. Só um detalhe: se você denuncia e não prova, vai parar nos tribunais. Cadê o print ou documentos que comprovariam a malandragem?
Afinal, ninguém seria tão ingênuo ao ponto de escancarar possíveis indícios. A menos que o sujeito, fisgado numa escuta ou gravações de qualquer espécie, não veja outra saída senão assumir o (s) crimes (s). É o que aconteceu ao Edilson Pereira de Carvalho, figura central do Máfia do Apito desarticulada na temporada 2005. A moral da história é que simplesmente o baniram do meio.
Historicamente, o pior de todos era João Etzel Filho (húngaro naturalizado brasileiro, 1916 – 1988), que roubava na cara dura e não se escondia atrás da máscara. Ele não precisava camuflar as roubalheiras porque atuava escorado na blindagem do ex-presidente da FPF, João Mendonça Falcão, que ditava antecipadamente os placares, segundo as conveniências do então deputado estadual. Era tudo para quem o ajudasse a se eleger nos anos 60. Em um dos assaltos diante da minha extinta Ferroviária, aqui em Assis, o pilantra saiu no camburão da polícia para que os torcedores locais, revoltados, não o linchassem.
Num período mais recente – mil, novecentos e trá-lá-lá – o repórter José Batista (in memorian), ex-Diário Popular, me ofereceu de bandeja uma denúncia contra um árbitro que acabava de apitar a vitória de um clube grande contra um pequeno do interior. Reparem: nem posso revelar os times envolvidos porque a carapuça entraria direto na cabeça do acusado e sobraria pra quem, como eu, trabalhava no Estadão, em tese mais independente.
Síntese: um conselheiro do clube campeão em cima do primo pobre, que dependia do empate, mas tropeço num pênalti no finzinho do jogo, contou ao meu colega do extinto Dipo que não queria aprovar as contas porque havia R$ 400 mil não comprovados na contabilidade anual. Ao que o presidente, envaidecido pela conquista, explicou ao desconfiado plenário. ”Como justificar se pagamos isso para que o juiz nos desse o título”… Pois bem: no .. Estadão, o diretor Miguel Jorge também vetou a matéria detectada na gráfica pelo supervisor Teixeira. Não escapei da censura.
Inconformado, eu não parava de cutucar na ferida e polemizar que havia, sim, ladrões no futebol. Mas é claro que seria arriscado (juridicamente) identificá-los. Eu cobria os bastidores da FPF. De repente, vejam só quem, de semblante amarrado e preocupado, me interpela nos corredores da entidade: o próprio suspeito. “Você fala, insinua e atira no ventilador, mas não aponta ninguém. Dê os nomes”, desafiou. Era como se já soubesse que eu não poderia contar um segredo que o incomodava. Que alívio na expressão do rapaz…
Árbitros ladrões mancham o futebol. Por Nelson Cilo
Jornalista há quatro décadas, cobriu pelo Diário da Noite, Estadão, Folha da Tarde e Gazeta Esportiva e também quatro Copas do Mundo e uma Olimpíada.
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