A campanha de Boulos vai mal.
Menos por culpa do candidato, que tem lutado bravamente e tentado se reinventar, negando muitas posturas e opiniões do seu passado. Parece que a estratégia não foi exatamente feliz, pois Boulos chega às vésperas das eleições do segundo turno rejeitado peremptoriamente por quase 50% do eleitorado.
Sua campanha foi marcada pelo isolamento – o PT assobia, olha de lado e faz que não tem nada a ver com isso, assistindo de camarote o candidato ser comido na arena do Coliseu político, pois não quer associar o nome do partido a uma derrota em São Paulo. E os partidos mais radicais estão bravos com Boulos, entendendo que o candidato, outrora louvado pelas várias matizes da esquerda, inclusive pelos defensores do anarquismo, na opinião deles rendeu-se ao sistema e tornou-se um pequeno burguês igual aos outros, ao participar de eleições democráticas, receber recursos de fundo partidário e renunciar à violência como arma política.
Eles não reconhecem mais nesse Boulos, remasterizado pelos marqueteiros, o mesmo maestro do caos que tanta esperança lhes trazia, rumo a uma revolução do proletariado.
Na ânsia de conquistar votos, Boulos – que nunca negou sua simpatia pelos extremistas palestinos – cometeu mais uma imprudência, ao reunir-se na sexta-feira, dia 18, na Mesquita de Santo Amaro, com militantes anti-Israel.
Na ocasião, Boulos esteve com os senhores Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) – entidade que defende o fim da nação judaica como Estado nacional, e Mohamed El Kadri, ativista da “causa palestina” e apoiador público do grupo Hamas
“-Você não precisa ser de esquerda, de direita, precisa apenas ter humanidade para se sensibilizar com o que está acontecendo com o NOSSO povo (grifo meu) neste momento na Palestina, no Líbano e também cm muita gente deixada para trás na cidade mais rica do Brasil”, disse Boulos durante o encontro.
A primeira forçada de barra está em comparar São Paulo com a Palestina e o Líbano. Gaza, parte do território palestino, foi ocupada com mão de ferro pelo Hamas, que oprimiu a população pacífica local e surrupiou os fartos recursos internacionais destinados a promover paz, qualidade de vida, progresso e infraestrutura para usufruto de lideranças, construir túneis, comprar misseis, armas e munições e subsidiar ataques terroristas e violência de toda ordem contra civis israelenses e eventuais ”colaboradores” palestinos.
O Líbano, outrora a pérola do oriente médio, teve seu frágil mas bem-sucedido arranjo político, onde cristãos e muçulmanos dividiam pacificamente o governo, desequilibrado pela presença de terroristas financiados pelo Irã, que ocuparam o país, promoveram terror e literalmente roubaram a soberania do Líbano, transferindo seu governo de fato para o “Hezbollah”.
O que o Brasil, o que São Paulo tem com isso? Só Boulos pode explicar.
O Brasil é um fenômeno geopolítico, formado por indígenas, imigrantes, africanos e fluxos incessantes de migração interna.
São Paulo, particularmente, foi, desde o princípio, uma terra de oportunidades, que atraia pessoas com coragem para tentar a vida na “boca do sertão”.
Isolada do litoral, sujeita a riscos constantes de ataques indígenas, a vila e depois cidade compreendeu precocemente que não poderia depender das mercês da Metrópole para sobreviver.
Isso forjou pessoas empreendedoras, orgulhosas de sua capacidade, onde são bem vindos os que querem trabalhar, independentemente da origem, credo ou etnia.
São Paulo é portanto, uma cidade influenciada primeiramente pelos povos indígenas que aqui habitavam e cuja cultura é muito mais próxima de nós do que imaginamos, desde a toponímia até o brinquedo de “passar anel”, o modo de falar e a gastronomia.
Depois, pelos portugueses e espanhóis (Buenos e Camargos são espanhóis). Depois pelos africanos. Depois pelos imigrantes. Depois pelos migrantes, vindos dos estados do nordeste em sua maior parte. E, mais recentemente, pelas novas ondas de imigração, oriundas da América hispânica, do Haiti, do Afeganistão, dos países árabes, da África, da Coréia e da China.
Por isso, falar em uma “cultura paulista” é mais uma construção saudosista e ideológica do que um fato cientificamente constatável, em uma cidade que come mais pizza, quibe e esfiha (e talvez sushi) que virado.
Judeus e árabes – muçulmanos e cristãos, sempre convieram pacificamente em São Paulo, visto como um porto seguro de paz e promissão. Os judeus, fugitivos dos “progroms” czaristas e do Holocausto. Os árabes, da opressão do Império Otomano e, mais recentemente, das guerras fraticidas na Síria, no Iraque e no Líbano.
A maior contribuição que o Brasil pode oferecer ao conflito árabe-palestino-israelense, é ser um interlocutor das partes envolvidas. De todas as partes.
A escolha de um dos lados, movida pela ideologia e desconsiderando as barbáries praticadas pelos que Boulos tenta vitimizar, também tem de ser consideradas.
Essa escolha é péssima e retira do Brasil sua autoridade moral, fazendo-o caminhar celeremente rumo à condição de pária internacional.
As gerações de árabes e judeus que ajudaram a construir nossa cidade nos ensinaram diálogo, tolerância e compaixão. Essa é nossa maior riqueza, maior mesmo que nossa biodiversidade.
Ninguém tem o direito de nos roubar esse tesouro.
Por isso, os fatos apontam claramente que, em uma eleição polarizada entre o experiente e o principiante, o equilíbrio e a insensatez, a ordem em oposição à desordem, fica claro quem está ou não apto a governar, construindo a cidade e melhorando a vida das pessoas, em um ambiente de paz e trabalho, não importando conflitos exóticos, que só podem resultar em dor e exclusão.
São Paulo tem de ficar nas mãos de um governante que promova acolhimento, respeito à vida e solução de problemas pelo diálogo, pela serenidade e pelo planejamento.
Por isso, Ricardo Nunes tem muito mais estofo e autoridade moral para governar São Paulo que seu oponente. Por isso, voto em Ricardo Nunes e coronel Mello Araujo para a prefeitura de São Paulo. E, pelo visto, não sou somente eu que pensa assim.
Boulos ou São Paulo comprando a briga dos outros. Por Luiz Eduardo Pesce de Arruda

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