Para a realização das atividades cotidianas com segurança, é necessário um bom equilíbrio postural. Para que isto ocorra e preciso que as forças que atuam sobre o corpo estejam em equilíbrio e capazes de mantê-lo numa posição desejada, estando o indivíduo imóvel ou em movimento. Com o envelhecimento e em decorrência de alterações fisiológicas este equilíbrio é prejudicado e cerca de 30% dos idosos, acima de 65 anos de idade, relatam ter caído pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Estes acidentes podem, na dependência de sua gravidade, causar sérias consequências sociais e psicológicas, tanto para os idosos como para suas famílias.
As quedas são a terceira causa de mortes para pessoas acima de 65 anos no Brasil e este percentual cresce com o aumento da idade pesquisada. Mesmo quando têm menor gravidade podem impor limitações de mobilidade e restringir a independência e a autonomia desses idosos.
Estudo recente, apoiado pela Fapesp e conduzido por Daniela Cristina Carvalho de Abreu, coordenadora do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (Lare) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), com 153 pessoas voluntárias, entre 60 e 89 anos, foi publicado na revista BMC Geriatrics. Os resultados mostraram que quatro testes simples, aplicados em pacientes com 60 anos ou mais, foram capazes de prever, com uma antecedência de seis meses, o risco futuro de queda mesmo entre aqueles que apresentavam boas condições de equilíbrio e mobilidade.
O modelo testado requer que a pessoa idosa permaneça em cada uma das quatro posições estudadas – pés paralelos {bipodal}, um dos pés ligeiramente à frente do outro {semi-tandem}, com um pé à frente do outro {tandem} e finalmente equilibrado em um só pé {unipodal} . O estudo comparou os resultados preditivos com as pessoas ficando por tempo de 10 segundos e 30 segundos em cada posição e concluiu pela maior efetividade quando o tempo de observação é o maior. Esta efetividade pode ser ainda maior quando o teste é resumido em observar os indivíduos em duas das posições mais desafiadoras (tandem e unipodal) e por um tempo de 30 segundos em cada uma delas. Testes mais apurados comparando pacientes que caíram e os que não caíram nos seis meses subsequentes aos exames demonstraram que os testes devem ser aplicados por um tempo mínimo de 23 segundos em cada uma das posições estudadas.
O estudo demonstrou também que para cada segundo a mais que a pessoa consegue ficar na posição estudada, acima dos 30 segundos, a chance de cair nos próximos seis meses diminuía cerca de 5%.
Assim é possível predizer, de maneira simples e rápida, com um teste que pode ser feito na clínica e sem a necessidade de equipamentos, o risco de queda para um período subsequente de pelo menos 6 meses. Os resultados com estes testes servem também como fator de triagem e recomendar avaliações mais detalhadas e multifatoriais para estabelecer se o desequilíbrio está associado a fraqueza muscular, comprometimento sensoriais, postura, problemas articulares ou a outras causas.
Os pesquisadores esperam agora que, a partir dos resultados obtidos, seja implementada a avaliação de risco de quedas em pessoas a partir de 60 anos, abrangendo a atenção básica e, quando necessária, a consulta com especialistas. Apesar da prevalência de mortes decorrentes de quedas acidentais, e de haver indicação de realização de testes de equilíbrio anualmente para esta população, ele é negligenciado na prática diária.
Esta nova abordagem simples (duas posições), rápida e sem a necessidade de equipamentos pode ser uma solução para superar o problema e reduzir as mortes por queda em nosso país