Na sociedade contemporânea, é comum ouvirmos expressões como “geração mi-mi-mi”, associadas a uma percepção equivocada de que questões como depressão, autismo, TDAH, ansiedade e transtornos de personalidade são “modismos” ou “frescura”. No entanto, é importante refletir sobre a evolução histórica da saúde mental para entendermos o quão longe chegamos, e como ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Até o início do século XX, o entendimento sobre transtornos mentais era extremamente limitado. Pessoas que apresentavam sinais de comportamentos tidos como “diferentes” ou “anormais” eram frequentemente rotuladas como “loucas”, sendo isoladas em manicômios, onde eram submetidas a tratamentos desumanos, como banhos gelados e eletrochoques. A ausência de conhecimento sobre a natureza dessas condições era a base para esses métodos brutais.
Essa visão reducionista e cruel sobre a saúde mental começou a mudar com o avanço da ciência. Um exemplo claro de evolução científica é o desenvolvimento da insulina. Até 1921, a diabetes era uma doença fatal para muitas pessoas, mas com a descoberta da insulina, a vida de muitos foi transformada. Da mesma forma, na saúde mental, o progresso nos permitiu identificar e compreender transtornos que antes eram invisíveis ou mal interpretados.
Hoje, sabemos que transtornos como depressão, autismo, TDAH, ansiedade e borderline não são simples rótulos ou resultados de fraquezas pessoais. São condições reais, que afetam profundamente a vida das pessoas e podem ser diagnosticadas e tratadas com a devida seriedade e compreensão. No entanto, o estigma em torno dessas condições ainda é uma barreira a ser enfrentada.
Um aspecto interessante é que muitas pessoas acima de 50 anos frequentemente afirmam que não precisam de terapia, mas vivem em constante frustração. Relacionamentos abusivos, falta de equilíbrio emocional e padrões de comportamento disfuncionais são comuns entre elas, muitas vezes sem a consciência de que podem ser tratadas. Se a “geração mi-mi-mi” precisa de terapia para lidar com seus traumas, desafios emocionais e psicológicos, por que a geração anterior não precisaria? A realidade é que muitos de nós, dessa nova geração, fazemos terapia como uma consequência direta do que vivemos com aqueles que, por não buscaram tratamento, carregam frustrações e padrões de comportamentos prejudiciais.
A terapia desempenha um papel crucial no processo de cura e entendimento de nós mesmos. Ela não é um sinal de fraqueza, mas uma oportunidade de crescimento pessoal. Procurar ajuda profissional é uma maneira de se libertar de padrões prejudiciais, de aprender a lidar com emoções e de desenvolver habilidades para enfrentar os desafios da vida com mais equilíbrio e sabedoria. A terapia permite que as pessoas reconheçam e tratem suas feridas emocionais, possibilitando uma vida mais saudável e plena.
O fato de podermos diagnosticar e tratar esses transtornos é um grande avanço. Não se trata de romantizar as dificuldades enfrentadas por essas pessoas, mas de reconhecê-las como indivíduos que, assim como qualquer outra pessoa, merecem dignidade, respeito e a oportunidade de viver com autonomia e qualidade de vida. Em vez de ignorar ou estigmatizar, o conhecimento científico deve ser uma ferramenta para a inclusão.
A sociedade ainda precisa evoluir para acolher esses avanços. Precisamos abandonar preconceitos e criar um ambiente mais inclusivo, onde a compreensão das condições de saúde mental e neurodesenvolvimento seja disseminada. Reconhecer as dificuldades de cada indivíduo não significa minimizar os desafios, mas, sim, oferecer a oportunidade de uma vida mais digna e informada.
Portanto, é essencial que cada um de nós cuide da nossa saúde mental. Buscar ajuda profissional, falar sobre nossas dificuldades emocionais e entender que o autoconhecimento é um caminho importante para uma vida equilibrada é fundamental. A saúde mental não deve ser negligenciada, pois ela é a base para o nosso bem-estar e qualidade de vida. Ao cuidar de nossa mente, estamos cuidando de nossa vida como um todo.
Em suma, o que vemos na atualidade é fruto de uma evolução científica que transformou a maneira como entendemos o ser humano e as condições que afetam a saúde mental. A chave para um futuro mais inclusivo e saudável está na educação, no conhecimento e, acima de tudo, no respeito pelas diferenças que fazem cada pessoa única.