O herpes zoster, popularmente conhecido como cobreiro, é uma doença viral mais comum em pessoas com idade acima de 60 anos, que se caracteriza por erupções pápulo-vesiculosas (bolhosas e avermelhadas). Com o passar dos dias as vesículas transformam-se em pústulas e posteriormente em crostas.
Em geral atinge um dos lados do corpo ou da face ao longo de uma faixa, envolvendo estatisticamente: região torácica em torno de 53 a 55%, região cervical entre 17 e 25%, face 25% e região lombo-sacral entre 11 a 17%.
Entre dois a quatro dias antes da erupção pode verificar-se dor ou formigamento na área, não existindo praticamente outros sintomas para além destes.
A erupção cutânea geralmente resolve-se sozinha ao fim de quatro a seis semanas. No entanto, cerca de 10 a 20% das pessoas desenvolvem a neuralgia pós-herpética, que pode durar alguns dias, ou mesmo por toda a vida.
A manifestação da dor neuropática nesses casos pode variar muito em termos de impacto na qualidade e na intensidade, mas geralmente envolve sintomas de choques, pontadas, fisgadas, queimação, latejamento, prurido, sensação de uma anestesia dolorosa e uma dor provocada por estímulos que habitualmente não deveriam gerar desconforto, tal como o contato da região afetada com o lençol da cama ou a própria roupa, a água do chuveiro e até mesmo o vento, por exemplo.
Essa temível manifestação, um verdadeiro martírio para os pacientes, é denominado alodinia. Em pessoas com o sistema imunitário debilitado, a doença pode-se espalhar pelo corpo todo, e quando a erupção afeta o olho, pode ocorrer perda irreversível da visão.
O herpes zoster é causado pela reativação do vírus Varicela-Zoster no corpo da pessoa. A infeção inicial com esse vírus causa varicela. Depois da varicela desaparecer, o vírus pode permanecer dormente nas células nervosas.
Os fatores de risco para a reativação do vírus incluem idade avançada, baixa imunidade e a pessoa ter contraído a varicela antes dos 18 meses de idade.
Ainda não é totalmente conhecida a forma como o vírus permanece no corpo e é posteriormente reativado e sabemos que a exposição ao vírus presente nas bolhas pode transmitir varicela às pessoas que não tiveram a doença anteriormente, mas não causa herpes zoster.
O diagnóstico da doença tem por base os sinais e sintomas da pessoa. O vírus varicela-zoster não é o mesmo que o vírus do herpes simples, embora ambos pertençam à mesma família de vírus.
Ao exame clínico, observam-se lesões cicatriciais, zonas de gatilho (áreas que ao serem tocadas, provocam reações dolorosas, às vezes, de forte intensidade) e alodinea ao longo da extensão nervosa afetada.
O vírus varicela-zoster acarreta comprometimento dos troncos nervosos periféricos, gânglios sensitivos, raízes, medula espinal, tronco encefálico, entre outros.
A fase aguda do herpes zoster é habitualmente tratado com medicamentos antivirais (aciclocir, valaciclovir, fanciclovir) e analgésicos comuns (dipirona, paracetamol). Já a neuralgia pós-herpética depende da sintomatologia predominante, mas geralmente é feito a associação de drogas anticonvulsivantes, antidepressivas, neurolépticas e, menos frequentemente, da metadona. Para entendimento do contexto dessas indicações, na literatura médica é referendado de que o bloqueio do sistema nervoso neurovegetativo simpático, proporcionado por essa categoria de medicamentos, durante os primeiros meses após a erupção, produz alívio da dor em grande número de casos.
O tratamento cirúrgico é frequentemente insatisfatório para o tratamento da neuralgia pós-herpética, mas existem diferentes técnicas propostas, destacando-se o implante de neuroestimulador medular quando a dor predominante é de queimação; e cirurgia ablativa com o objetivo de interrupção ascendente dos estímulos dolorosos, mais frequentemente indicada nos casos em que predominam a dor do tipo paroxística (choque, pontada, agulhada). Outro apontamento da literatura médica direciona a proposta de estimulação dos núcleos talâmicos sensitivos, que resulta em alívio ou melhora em cerca de 1/3 dos casos.
Uma importante consideração: a indicação da vacina contra o herpes zoster a partir de 50 anos. Em casos específicos, pessoas mais jovens, geralmente a partir de 18 anos, com condições que comprometem o sistema imunológico, também podem ser indicadas para vacinação. Os benefícios incluem a redução da chance de desenvolver herpes zoster e suas complicações, como a neuralgia pós-herpética. Grávidas e pessoas alérgicas graves devem evitar a vacina.
Como vemos, é um exemplo mais do que clássico dos benefícios (com viabilidades muito mais acessíveis) de prevenir para não ter de atuar na remediação (mais complexa e nem sempre eficaz).
Claudio Fernandes Corrêa, neurocirurgião funcional
Como referência:
- Estimulação elétrica da medula espinal para o tratamento da dor por desaferentação. ISBN 85-85561-09-2. Lemos Editora e Gráficos Ltda. Autor: Claudio Fernandes Corrêa
- Tese de Mestrado: Mestrado em Medicina (Neurocirurgia). Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, Brasil. Título: Estimulação elétrica da medula espinal para o tratamento da dor crônica. Autor: Claudio Fernandes Corrêa