Nem toda relação termina por falta de amor.
Às vezes, ela adoece silenciosamente.
E o que mata não é a é o excesso.
Excesso de cuidado, de controle, de papéis invertidos.
É quando a mulher vira mãe do companheiro.
Quando o homem se comporta como pai da parceira.
E o casal se dissolve tentando manter de pé algo que já deixou de existir.
Escuto com frequência, nas sessões de terapia, queixas sobre a falta de libido.
Mas antes que o corpo se desligue, a alma já foi desconsiderada.
Porque não se deseja o que se cuida como um filho.
Nem se deseja quem te protege como se você fosse uma criança.
Quando a mulher assume o papel de mãe, ela guia, alerta, corrige, acolhe e antecipa.
Cuida com excesso, como quem tenta evitar a queda de um filho.
Por fora, parece forte. Por dentro, está esgotada.
Não queria ser responsável por tudo queria ser olhada, admirada, desejada.
Mas foi ensinada que amar é se doar até se apagar.
Do outro lado, o homem que se acomoda nesse colo emocional vai perdendo sua função na relação.
Já não assume riscos, já não toma decisões. Espera que ela resolva.
O vínculo, então, deixa de ser entre dois adultos e passa a ser entre alguém que carrega e outro que é carregado.
O oposto também acontece.
Quando o homem assume o papel de pai da mulher, ele dita o ritmo, corrige comportamentos, ensina lições.
Pede maturidade, mas nega espaço de crescimento.
Ela se encolhe, se adapta, se molda.
Até perder a própria voz dentro da relação.
E com ela, perde também o desejo de permanecer.
Tudo se transforma em exagero: o cuidado, o zelo, a expectativa.
Como um pai ou uma mãe faz.
Só que ali não é um filho ou filha. É o seu parceiro. A sua parceira.
E ninguém admira o que infantiliza.
Ninguém deseja o que controla.
O casal não deve se chamar de mãe e pai dentro da relação esses papéis não pertencem à parceria, mas à família de origem.
Quando o casal adota esses títulos emocionalmente, abre caminho para desequilíbrios profundos que corroem o amor e o respeito mútuo.
E mesmo assim… eles continuam juntos.
Por mais que o relacionamento tenha se desfeito emocionalmente, a separação não acontece.
Há culpa. Há medo. Há dependência.
Há uma necessidade inconsciente de manter esse outro como base emocional, mesmo que o custo seja a própria felicidade.
É uma prisão invisível, construída com os tijolos da infância.
São heranças afetivas não elaboradas.
Mulheres que aprenderam a amar cuidando.
Homens que nunca foram acolhidos e, por isso, buscam colo e não parceria.
O que era para ser amor vira reencenação traumática.
E então o sexo desaparece.
A admiração se rompe.
A conversa some.
Mas eles permanecem ali, lado a lado, como se a ausência de afeto fosse mais suportável do que a dor de romper.
Relacionamentos assim não terminam em separação.
Eles terminam em silêncio.
Num convívio onde corpos dividem espaço, mas não dividem mais vida.
Essa é uma relação que destrói.
Não aos gritos, mas aos poucos.
Cada um vai perdendo o próprio lugar dentro do matrimônio.
Ela deixa de se sentir mulher.
Ele deixa de se perceber homem.
E no lugar de dois que se amam, sobram dois que se sustentam por um fio de obrigação, culpa ou apego emocional disfarçado de amor.
Mas ainda é possível resgatar.
Reverter essa inversão de papéis exige consciência, coragem e, muitas vezes, ajuda profissional.
Não é fácil sair de um lugar que você passou a vida inteira ocupando.
Mas é libertador.
Amor verdadeiro não é adoção emocional.
É encontro.
Entre dois adultos disponíveis, inteiros, responsáveis por si.
Você não está ali para ser pai ou mãe.
Está para ser parceiro(a).
Para caminhar junto.
Não para carregar ninguém nas costas.
Lembre-se: seu parceiro não precisa de uma mãe. Ele precisa de uma mulher.
De uma parceira com quem ele possa transar, rir, dividir desejos, planos, cumplicidades.
Alguém que o inspire como igual, e não como cuidadora.
E o contrário também é verdadeiro: sua parceira não precisa de um pai. Ela precisa de um homem.
Presente, maduro, afetivo. Que a olhe como mulher, e não como filha a ser corrigida.
Relacionamento saudável é aquele onde os dois se encontram como adultos e se desejam na mesma medida em que se respeitam.
Não se sustenta no cuidado exagerado, mas na troca genuína.
Então, com honestidade:
Na sua relação, você está sendo amado(a)… ou adotado(a)?