Recebi de um amigo matéria sobre o Carlos Zéfiro, autor dos “catecismos” de cunho erótico, nem tão bem desenhados, mas que fez a alegria da meninada nos anos 50 e 60.
Foi uma época que não havia tanta oferta desse tipo de produto, como nos dias de hoje, onde absolutamente tudo está erotizado. Atualmente, qualquer pessoa de qualquer idade tem acesso aos mais diversos caminhos da indústria do sexo. Vídeos, revistas, sex shops. Mas naquele tempo…
É exatamente aí que entra a minha primeira vez no Rio.
Ano de 1956. Tinha pouco mais de doze anos e perdi meu pai no mês de novembro. Foi um baque tremendo para mim, pois desde os seis anos de idade o acompanhava até o local de trabalho para em seguida almoçarmos em belíssimos restaurantes no centro de Sampa. Vale lembrar uma curiosidade: meu pai nos anos 40 até 1956 quando faleceu, foi o rei da noite. Dono dos três melhores taxi-dancings da época como o Tabu, no Largo do Paissandu e Maravilhoso e Chuá, na Av. Ipiranga. E, enquanto ele fazia o livro-caixa, eu ficava no palco mexendo no piano e bateria.
Voltando à primeira vez no Rio.
O velório do meu pai foi um acontecimento com centenas de pessoas comparecendo. Muitas autoridades, familiares e uma multidão de amigos e artistas de todos os gêneros musicais.
Diante daquele terremoto emocional, uma amiga de meus pais sugeriu que eu deveria sair daquele clima de tristeza. Ela tinha um filho da mesma idade que eu, e estavam indo passar uns 10 dias no Rio de Janeiro na casa de parentes. E sugeriu que eu fosse junto.
Chegamos no Rio e fomos direto para a casa da Ondina e do Ário. Moravam no Méier. Lembro que era num pequeno edifício perto da estrada de ferro e bem longe das praias que víamos através de fotos.
A paisagem não era aquela que esperávamos e ficava perto de um morro. Logo nos enturmamos com a molecada do bairro e começamos a jogar futebol… de rua.
E para conhecer o bairro, nada melhor que andar, andar, andar…
E foi aí que chegamos na estação de trens do Méier. Paramos em frente a uma banca de jornais e começamos a olhar os “gibis”. Era assim que chamávamos as revistas em quadrinhos.
E no meio delas, bem escondidinhas, vimos um gibizinho meio maroto com ilustrações para lá de eróticas. E bota erótica nisso!
Crianças ainda e aquela inibição de pedir um exemplar para o jornaleiro. Veio a coragem e o homem nem pestanejou. Vendeu um exemplar para a dupla de paulistas.
E voltamos para nosso apartamento felizes da vida carregando com cuidado o “catecismo” do Carlos Zéfiro.
Nem preciso dizer que mal saíamos para conhecer o resto da cidade. Revezávamos, democraticamente, a utilização dessa literatura… pra lá de especial.
Ave Zéfiro!