Eu penso, meus caros leitores, que o ministro Gilmar Mendes poderia, no mínimo, responder às mil críticas a ele dirigidas no âmbito das frequentes canetadas favoráveis a quem tenha cometido crimes casuais ou intencionais, especialmente de corrupção. Não é só isso. Como se já não bastassem as indecifráveis decisões historicamente tomadas entre quatro ou mais paredes lá no Supremo Tribunal Federal, o excelentíssimo usa e abusa de medidas individuais logo às vésperas de o Congresso votar o fim das medidas monocráticas do STF. Me refiro a dois ou três integrantes da Corte. Sempre eles. Nem seria necessário citar o episódio em que Marco Aurélio Mello, hoje aposentado, mandou soltar o traficante André do Rap, um dos líderes do PCC, que teve o habeas corpus revogado no próprio tribunal, mas desapareceu do mapa e nunca mais deu as caras.
Calma: não vou desviar meu foco sobre o incômodo silêncio daqueles que emudecem diante das eventuais interrogações da imprensa fiscalizadora. Li atentamente e reli tudo aquilo que os colunistas abordaram no contexto do cancelamento das provas que, desde o Mensalão, incriminaram o ex-ministro José Dirceu e, pior, o levaram à cadeia. O STF selou a condenação. E Gilmar – o mesmo que acaba de anular as provas – antes as reconhecia e não poupava furiosas críticas ao então braço direito de Lula nos misteriosos porões do Planalto.
Não se iludam. Nem insistam. Afinal, eu não colocaria mais lenha na fogueira de um circo escancaradamente surreal. Só vou incluir as minhas palavras em cima do que observou o ex-chefe da força tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, no alvo do contraditório e imprevisível STF. Ele reagiu ao pronunciamento em que Gilmar acusa Moro e procuradores da Lava Jato de montarem uma confraria para condenar José Dirceu e Lula. A confraria, segundo a tese de Dallagnol, é uma união entre ministros do STF, acusados, condenados e criminosos.
O que aconteceu, segundo ele, é mais uma prova da “suprema hipocrisia” de Gilmar. Que, na opinião de Dallagnol, “coa um mosquito, mas engole um camelo se o assunto é a Lava Jato”. O tiroteio verbal elevou os limites do barulho na matéria publicada no UOL. O mais estranho é que Gilmar preferiu não se manifestar, a exemplo de outras vezes em que o atacaram. Tática do silêncio ou confissão de culpa? Não sei de nada. O que vocês acham? Calem-se.
Tática do silêncio. Ou confissão de culpa? Por Nelson Cilo
Jornalista há quatro décadas, cobriu pelo Diário da Noite, Estadão, Folha da Tarde e Gazeta Esportiva e também quatro Copas do Mundo e uma Olimpíada.
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