No século XVIII, alguns filósofos franceses pensavam que poderiam solucionar os problemas da humanidade por intermédio da razão.
A vida, portanto, tornar-se-ia digna de se viver e o mundo seria compatível com a inteligência e a capacidade de criação do homem.
Os poetas do racionalismo foram Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Voltaire (1694-1778), afinal, em geral, todas as grandes correntes de pensamento têm os seus respectivos poetas.
Segundo Edmundo Moniz (1911-1997), professor de filosofia, historiador, poeta, teatrólogo e jornalista, o poeta em Voltaire é maior do que o filósofo. Sua filosofia pecaria pela falta de originalidade e Voltaire, apenas nesse campo, teria se limitado a difundir as ideias mais em voga e de maior prestígio na Inglaterra.
Voltaire, ou melhor, Jean François-Marie Arouet, nasceu em 1694 em Paris e viveu até 1778.
Foi educado pelos jesuítas, e seu pai pretendia encaminhá-lo para a carreira jurídica. Mas Voltaire, muito cedo, reagiu contra os mestres e contra os objetivos paternos.
Ele rompeu com a Igreja, renegou a religião católica e declarou o seu desejo em adotar a literatura como profissão.
O pai de Voltaire ficou furioso, pois ele considerava a literatura a profissão dos que querem ser inúteis à sociedade, um fardo para os parentes, e, com certeza, iria morrer de fome.
Voltaire não se importou com a opinião de seu pai e prontificou-se a ser inútil à sociedade, e devotou-se às letras com toda a vivacidade de seu espírito.
Mais tarde, Voltaire diria: “Precisa-se ter o diabo no corpo para se triunfar em qualquer arte”.
O jovem Arouet se rebelou, também, contra alguns dos mais poderosos aristocratas, contra os homens de governo, contra a monarquia absoluta, isto é, contra a ordem social em vigência.
Enfim, Voltaire foi preso onde passou onze meses e adotou o nome de Voltaire, pelo qual se tornaria universalmente conhecido.
Porém, a violência não destrói a convicção de ninguém. Ao contrário, só pode fortificá-la.
Voltaire saiu da Bastilha sem ter perdido o bom humor e a disposição para a luta.
O seu temperamento irrequieto e combativo permaneceu por meio do poeta que fazia das letras um instrumento político de propaganda ideológica.
Na verdade, em Paris, Voltaire só criava casos e só trazia perturbações.
Ele seguiu para a Inglaterra onde passou de 1726 a 1727 e uma grande transformação se operou em seu espírito.
Ele travou conhecimento com a filosofia de John Locke (1632-1704) e com as doutrinas científicas de Isaac Newton (1643-1727). Percebeu que na Inglaterra reinava a liberdade de pensamento e, portanto, a cultura e a arte podiam florescer e frutificar plenamente.
Verificou, também, que os burgueses podiam aspirar a todas as dignidades, e que havia uma animadora tolerância no terreno religioso e filosófico.
A partir de então, Voltaire imaginou para a França um regime semelhante ao da Inglaterra.
Eram comuns pensamentos reacionários contra ele e Voltaire nem se surpreendia mais.
Ele acreditava que um “rei esclarecido” poderia contribuir enormemente para a felicidade do povo, renovando e melhorando as instituições econômicas e políticas.
Julgou mesmo que o destino da humanidade dependia, em grande parte, da vontade dos governantes.
Enfim, que perigo real Voltaire constituía para a sociedade de seu tempo?
Ele era símbolo completo da nova burguesia e o velho regime agonizava.
Nada mais necessário do que terminar com os privilégios da nobreza, do clero e dar à burguesia e ao povo o seu lugar ao sol.
Porém, chegando ao poder, a burguesia se tornou reacionária e conservadora, uniu-se à Igreja, e começou a ter receio da filosofia racionalista que poderia ser utilizada contra ela como já foi utilizada contra o antigo regime.
Ou seja, nada mais era tão premente do que a luta contra a intolerância religiosa, ou melhor, pela supremacia da razão sobre o fanatismo.
A razão, para Voltaire, era, ao mesmo tempo, um meio e uma finalidade. A questão era saber utilizá-la devidamente.
Voltaire gostava de dizer que a razão acabava sempre por ter razão.
A longa existência de Voltaire foi toda consagrada à luta sem tréguas contra o velho regime.
O século XVIII já foi definido como o século de Voltaire e jamais poderemos esquecer que ele condenou a guerra, o despotismo, a violência
para pregar a tolerância e a liberdade.
“A primeira lei da natureza é a tolerância já que temos todos uma porção de erros e fraquezas.”
Voltaire (1694-1778), filósofo, poeta, dramaturgo e escritor francês.