Acordamos cedo e logo corremos para conferir se tem alguma guerra nova, se já estourou a Terceira, qual foi ou será a ameaça do dia vinda dos belicosos líderes mundiais. O celular na cabeceira da cama já apita com recados novos, brigas de amigos em grupos, novas fofocas, tentativas de golpes esperando qualquer distração. Novo e estranho cotidiano, que não para de nos surpreender nessa vida digital que a todos conecta.
Uma loucura as rotações por segundo que não nos deixam ficar de bobeira, distraídos, claro a não ser que sejamos algum tipo de eremita, totalmente imunes aos acontecimentos. Sempre tem algum que envolve, por curiosidade, interesse ou proximidade. Que nos afeta, como a mim afeta profundamente, por exemplo, saber de mais uma morte por feminicídio. De mais alguém que em um segundo nos abandona morto pela violência urbana que parece a cada dia mais incontrolável. Em mais uma ignorância ganhando corpo tentando dinamitar alguma vitória que chegamos a comemorar.
Nesse novo alucinante cotidiano que corre célere, fatos se sobrepõem a outros, deixando para trás os desfechos, e sempre nos dando a terrível sensação de repetição sem fim da História. Deixando para trás o rastro do medo e insegurança. Em todas as conversas a desilusão e enorme preocupação com os minutos seguintes, com o tal futuro – conhecedores profundos das coisas estão vendo, alertando, explicando, até por vivência e sabedoria, sinalizando para o mundo todo em marcha-a-ré em temas para os quais dedicamos tanto de nosso tempo. Digo nós, os que já viveram essas décadas que variaram de horror a alívio algumas vezes. Otimismo e pessimismo se alternando.
Somos uma tal geração prateada. Em ação, atenção! Nossos cabelos, se restam, prateados, grisalhos, brancos, ainda estão bem vivos nas ruas e em condições de fazer ainda boas revoluções em meio a essas transformações. Tanta atenção que foi devida à série Adolescência poderia ajudar a criar também outro foco para essa nossa, minha, de tantos, geração, momento, novos setênios, esses períodos – ciclos – de sete anos, cada um com características e desafios únicos, todos os raios de vida que consigamos alcançar. Teremos muito a dizer e fazer se nos mantivermos sintonizados.
“Velhescência” é palavra que não existe, embora ache que seria mais exata. Oficial é envelhescência, contraponto de adolescência, segundo quem criou o termo, o psicanalista e sociólogo Manoel Berlinck, a fase da vida entre 45 – 65 anos, esse período entre a maturidade e a velhice. Não apareceu ainda, que se saiba, quem definisse claramente o que ocorre nessa sequência, ou o a partir daí. No máximo, como recentemente, um sinal de mais a quem ultrapassa os 80, virando assim um Idoso +, com preferência maior nas filas de atendimento.
Tenho lido e ouvido muito falar em gerações, as nossas e no que as próximas encontrarão, de bom e de ruim, uma conversa original para mim que não deixarei descendentes. Mas absolutamente compreendo essa certa angústia quando encontro os amigos, muitos hoje avôs e avós, tornados assim bem mais jovens, e ainda com longa expectativa de vida e com diálogo aberto sobre tudo, coisa que no passado era quase inimaginável.
Tenho a esperança de que todos seremos ouvidos a tempo, nessa linha da vida, inclusive por conta da expansão das formas de comunicação às quais também já nos integramos, e sem o uso de secretos emojis. Nos comunicamos também com nossos pares, e de formas que também precisam ser estudadas para melhor compreensão e apoio. Vivemos mais onde há progresso. Ganhamos tempo por aqui.
Na política, na estética, muito além do marketing que já nos viu como alvo, acordamos a cada dia com mais vitalidade para participar, querendo nos informar e aprender mais, ansiando que de algum lugar estejam vindo melhores soluções, que a nossa passagem e conselhos garantam deixarmos um mundo melhor, que não exploda. Nem que seja pela terrível e própria inquietude do tempo que nos resta.