Há exatos cinco anos, em março de 2020, foi decretado oficialmente o início da pandemia do Covid-19 e o mundo passou a enfrentar um de seus momentos mais complexos e transformadores em todas as esferas sociais: na saúde, no dia a dia do trabalho, no impulso da tecnologia e telecomunicações, nas relações interpessoais e lazer e, claro, na Educação. De acordo com o Banco Mundial (BID), em todo o mundo foram afetados mais de 1,6 bilhão de estudantes. No Brasil, os alunos ficaram cerca de 180 dias sem aulas presenciais – um dos países que mais tempo demorou para retornar para as salas de aula – e o ensino passou a ser integralmente remoto.
A nova dinâmica de alunos e professores escancarou e evidenciou antigas desigualdades do País, uma vez que muitas escolas, especialmente as públicas, não possuíam estrutura ou fácil acesso à tecnologia e boa parte dos docentes não estava preparada e capacitada para enfrentar os desafios dos novos métodos e práticas educacionais. Resultados? Queda significativa de importantes índices de desempenho educacionais, muitos que ainda não retornaram aos patamares do período pré-pandemia – que já eram muito baixos – e um grande risco de que a pandemia tenha comprometido o futuro educacional e profissional de toda uma geração. Isso sem falar nos impactos na saúde mental, provocados principalmente pelo isolamento social e incertezas sobre o futuro.
Uma pesquisa recente publicada no início deste ano pela Pobreza Multidimensional da Infância e da Adolescência no Brasil, lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mostrou que 30% das crianças até os 8 anos não estão alfabetizadas. Em 2019, o percentual era 14%. A parcela de não alfabetizados salta para incríveis 45% quando são levadas em conta as áreas rurais. De acordo com o levantamento, 4 milhões de alunos estão atrasados com os estudos e quase 620 mil não possuem qualquer acesso à Educação. Mas como é possível minimizar os impactos da pandemia, reduzir os déficits e as desigualdades de aprendizado e retomar o crescimento?
O caminho não é simples e não há uma única resposta, mas os investimentos em parcerias público-privadas (PPPs), capacitação dos docentes em novos métodos de aprendizado e a inclusão do desenvolvimento socioemocionais são alternativas promissoras. Para trazer essas soluções é imprescindível que o Estado tenha um papel indutor e que as ações sejam coordenadas nas esferas municipal, estadual e federal.
Dados recentes mostram que a União, Estados e Municípios têm percebido o valor das chamadas PPPs de Infraestrutura Social. Isso porque, ao mesmo tempo em que elas desafogam as contas públicas, são capazes de oferecer serviços de qualidade e em larga escala para a população. Prova desse reconhecimento é o recente levantamento divulgado pela consultoria Radar PPP, mostrando que atualmente são 92 projetos em andamento, ante 9 iniciados em 2023. Muito desse crescimento se deve, por exemplo, ao Chamamento Público da Caixa Econômica Federal. O projeto prevê a criação de PPPs visando a construção e operação de unidades de educação infantil, com a construção de novas escolas e a prestação de serviços em tempo integral, priorizando a ampliação do acesso e o aumento da oferta de vagas para crianças de 0 a 5 anos.
Aproveitar esse momento em que o poder público e as instituições estão focados nas reformas educacionais e potencializando os investimentos – vale lembrar que uma das principais pautas do ano é o novo Plano Nacional de Educação (PNE) – é fundamental, possível e necessário aprofundar o debate e ampliar o escopo das PPPs de Educação e incluir o desenvolvimento socioemocional na pauta da discussão.
As habilidades socioemocionais são competências construtivas, como colaboração, comunicação, pensamento crítico e raciocínio lógico que permitem gerenciar emoções, construir relacionamentos saudáveis e tomar decisões que priorizem a responsabilidade e o enfrentamento de adversidades, preparando os estudantes para os desafios contemporâneos. Os benefícios das práticas de tais habilidades ainda na infância são incontestáveis em comprovados não apenas no Brasil, mas em muitos países desenvolvidos.
Trago como exemplo um relatório da McKinsey & Company que mostra que profissionais com as habilidades socioemocionais desenvolvidas têm 30% mais chances de serem promovidos e ocuparem cargos de liderança. Um outro estudo realizado em Harvard também comprovou a eficácia do desenvolvimento de tais habilidades ao acompanhar estudantes durante 20 anos e mostrar que aqueles com maior desenvolvimento socioemocional na infância têm mais chances de concluir o Ensino Superior e conquistar empregos estáveis e salários mais altos.
É importante enfatizar que tanto as PPPs da Educação como a inclusão do desenvolvimento socioemocional em seu escopo não interferem nas práticas pedagógicas em sala de aula e na autonomia dos professores. Ao contrário, funcionam como um facilitador e apoio às práticas e métodos pedagógicos, mediante, claro, ao treinamento e capacitação dos docentes.
As PPPs de Educação e a inclusão do desenvolvimento socioemocional como apoio para as práticas pedagógicas são os únicos caminhos possíveis para solucionar todos os problemas e desafios da educação básica brasileira, que se intensificaram após a pandemia do Covid-19, persistindo mesmo após cinco anos, mas, sem dúvida, são alternativas eficazes, com alto custo-benefício a médio e longo prazo e cujos resultados vão impactar gerações de alunos e cidadãos.