No futebol, é assim: a distância entre o céu e o inferno mantém o exato limite de um gol no finzinho ou, pior ainda, nos acréscimos. Aí não tem choro nem vela. A contraditória mentalidade historicamente implantada nos clubes, principalmente aqui e menos lá fora, coloca os pilotos dos ocasionais fracassos no olho da rua. Os filósofos do absurdo lembrariam, sim senhores, que a batalha é coletiva, mas apenas um lado paga o preço dos eventuais tropeços – os técnicos. Que, na outra ponta, são endeusados na hora de comemorar as vitórias conquistadas pelos verdadeiros donos dos shows nos estádios.
Me refiro, é claro, aos jogadores que levam diferentes equipes aos títulos atribuídos aos comandantes. Não há varinha mágica que altere a lógica dos placares. Ganham os mais fortes que montaram elencos milionários. Nem queiram contestar a força gravitacional dos cofres abarrotados e mil vezes multiplicados que balançam as redes e derrubam os adversários. Quem nunca viu as incoerências deste filme que atire a primeira pedra na minha cara. Desde o início, o roteiro cinematográfico sugere um fim previsível: matar ou morrer. Quem duvidaria?
Um golzinho suado, no último lance do Palmeiras na prorrogação – golaço do herói Paulinho – bastou para que o Botafogo saísse no Mundial de Clubes e despachasse o português Renato Paiva do comando. Citei um caso recente, mas a listagem é infinita. Desde o começo da Era do intocável Abel Ferreira no Palmeiras – de 2020 para cá – os três maiores rivais do alviverde não pararam de substituir treinadores como se fossem eles os culpados pelo abismo negativo de cada um. Exemplos: Santos, o recordista de trocas (13 vezes no período), Corinthians (10) e São Paulo (7). Isso para citar somente os paulistas. Deus me livre no contexto nacional! No entanto, penso eu que Abel não vale como referência. Afinal, o supercampeão dirige um milionário grupo graças à sólida e indiscutível estrutura financeira que a presidente Leila Pereira mantém no Allianz. Portanto, o Palmeiras dispara mil anos luz na frente dos adversários.
Como pouca polêmica é bobagem, Renato Gaúcho elegeu a imprensa pelo demérito dos treinadores brasileiros e supervalorização dos estrangeiros. Que o diga Carlo Ancelotti na Seleção Brasileira. Segundo ele, falta reconhecimento. O desabafo aconteceu às vésperas de o Fluminense medir forças diante do Al Hilal no Mundial de Clubes nos Estados Unidos.
- “Queria ver um gringo no meu lugar”, desafiou, ao se referir às diferenças de cultura esportiva, além dos milhões de euros que fortalecem os clubes de fora.
Epílogo: e vocês, leitores, o que acham: Renato exagera ou tá coberto de sabedoria?