Em um país de dimensões continentais e desigualdades históricas como o Brasil, o acesso à internet ultrapassa a barreira da infraestrutura e se torna um imperativo de justiça social. Segundo estudo recente do NIC.br, apenas 11% das escolas públicas brasileiras com mais de 50 alunos por turno cumprem a meta de velocidade de conexão recomendada pelo Governo Federal. Além disso, apenas 29% das escolas dispõem de equipamentos como computadores ou tablets para que os alunos acessem a rede.
A ausência de uma conexão estável e significativa, aliada à escassez de recursos tecnológicos, compromete o processo educacional e perpetua desigualdades estruturais que limitam o futuro de milhões de crianças e adolescentes.
Programas como o Internet Brasil e o Aprender Conectado são iniciativas importantes no enfrentamento desses desafios. O primeiro, ao distribuir chips com internet móvel para alunos da rede pública que são beneficiários do Bolsa Família, contribui diretamente para levar conectividade às residências — o que é fundamental, já que a aprendizagem não termina quando o aluno sai da escola.
O segundo, ao promover a expansão e a qualificação da infraestrutura tecnológica em escolas públicas, têm papel estratégico no desenvolvimento de competências digitais no ambiente educacional. O eixo de inclusão digital do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê um investimento de R$ 8,8 bilhões até 2026 em iniciativas voltadas à ampliação do acesso digital, com destaque para a conexão de escolas.
Já a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (ENEC) orienta e viabiliza a conectividade com fins pedagógicos em todas as escolas públicas de educação básica, além de apoiar a melhoria da infraestrutura tecnológica dessas instituições.
Os impactos disso vão além da sala de aula. Sem acesso estável à internet, crianças e jovens têm seu desempenho escolar prejudicado, enfrentam obstáculos no acesso ao ensino superior, ao mercado de trabalho e ao pleno exercício da cidadania. A exclusão digital aprofunda desigualdades de renda e de oportunidades, especialmente entre famílias em situação de vulnerabilidade.
Diante disso, é preciso avançar de forma coordenada, sustentável e eficiente. Escolas localizadas em áreas urbanas, rurais, ribeirinhas ou de difícil acesso exigem soluções tecnológicas distintas — fibra óptica, satélite, 5G FWA ou redes móveis —, e a escolha da tecnologia deve levar em conta a realidade local e a perspectiva de longo prazo. Em regiões urbanas, a fibra óptica costuma ser a melhor escolha. Já em comunidades ribeirinhas ou remotas, soluções como satélite e 5G FWA fazem mais sentido.
O Brasil não precisa de uma solução única — precisa de decisões técnicas baseadas na realidade de cada território e no uso eficiente dos recursos disponíveis.
É essencial, ainda, reconhecer que a inclusão digital não pode se limitar aos muros da escola. Conectar estudantes também implica conectar suas famílias, especialmente em comunidades onde o celular do estudante é o único ponto de contato com o mundo digital.
Ao viabilizar o acesso doméstico, programas como o Internet Brasil promovem aprendizagem contínua, acesso a políticas públicas, participação social e inserção econômica. Em muitas famílias, o estudante é o único com algum nível de letramento digital — e acaba sendo quem ajuda os pais a preencher cadastros, buscar oportunidades ou acessar serviços básicos. Conectar o aluno é, na prática, conectar toda a casa.
Mas a conectividade por si só não é suficiente. É preciso garantir também o letramento digital — dos alunos, mas também das famílias e educadores. É a partir da apropriação crítica e autônoma das ferramentas digitais que conseguimos transformar acesso em oportunidade, conexão em inclusão, internet em instrumento de desenvolvimento.
O setor de telecomunicações tem papel central nesse processo. Como agentes desta transformação, empresas, operadoras e provedores devem estar comprometidos com a construção de soluções tecnológicas acessíveis, escaláveis e adaptadas às realidades brasileiras.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer nossa responsabilidade no enfrentamento das desigualdades e atuar lado a lado com o poder público e com a sociedade civil para garantir que ninguém fique para trás.
Sem internet significativa, não tem igualdade de oportunidades. A exclusão digital é o novo abismo social — e nenhum projeto de país justo sobrevive a isso. Conectividade não é um luxo, e sim infraestrutura de base para educação, renda e cidadania. E é por isso que a articulação entre poder público, empresas de tecnologia, operadoras e sociedade civil é fundamental.