A prestigiada revista britânica The Economist está fazendo sucesso no Brasil onde 90% da população mal consegue pronunciar a frase “I love you”. Na edição de domingo (29 de junho), um editorial – portanto, espaço de opinião – diz que Lula perdeu influência no exterior e é impopular no Brasil.
O artigo elenca “fatos” para provar a sua tese, amplamente repercutida e superdimensionada em vários veículos brasileiros. Não haveria nenhum problema se a repercussão na mídia brasileira não fosse tão superficial a ponto de ocultar outros “fatos” que a publicação britânica também menciona. E aí reside o principal problema.
Em primeiro lugar, os profissionais da imprensa que repercutiram o artigo confundiram editorial com reportagem. No primeiro ano do curso de Jornalismo se aprende que são coisas diferentes. Opinião é livre e deve ser respeitada, mesmo que não se concorde com ela. Já reportagem deve ficar a mais próxima da isenção e da pluralidade de fontes.
A crítica da The Economist teria menos impacto caso a repercussão não tivesse um interesse político explícito da imprensa que preferiu empacotar o varejo de questões pontuais e totalmente diferentes entre si em um grande atacadão. Esse viés político ficou evidente pelo fato de que a imprensa, em sua quase totalidade, preferiu editar o artigo, mirando somente em aspectos negativos. Isso mostra que ou os jornalistas brasileiros não leram a íntegra do artigo ou preferiram ignorar pontos positivos ali também descritos.
Tudo indica que ao retratar somente os aspectos negativos e intercalá-los de forma aleatória, a mídia brasileira deu cega razão para a visão exclusivamente eurocêntrica que a revista tem das relações internacionais. Uma das críticas do olhar europeu diz que o Brasil se isola do mundo ocidental quando critica o bombardeio dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas. O Brasil não foi o único a fazer isso. A ONU se posicionou contra ação militar norte-americana, sem falar de dezenas de países.
Outra razão inexplicável que parte expressiva da mídia deu ao editorial britânico é a alegação de que Lula se afasta do mundo ocidental ao fortalecer o BRICS e não buscar aproximação com Donald Trump. A humilhação sofrida por Zelensky e o presidente sul-africano em pleno salão oval da Casa Branca durante audiência oficial parece não dizer nada do que a imprevisibilidade de Trump é capaz.
Infelizmente, o jornalismo brasileiro padece ainda de um tremendo complexo de vira-lata. Para dar força às suas opções políticas acaba confundindo até mesmo o básico da profissão. O óbvio seria ler o editorial inteiro para tecer uma conclusão. No linguajar jornalístico isso tem nome: “comeu barriga”.
Por fim, é importante frisar: The Economist é uma espécie de “bíblia liberal”, que defende posições muito claras como a defesa intransigente do livre mercado e defende fortemente os interesses da Europa.