Onde você estava em 1992? Como costumava fazer compras nessa época? Não faz tanto tempo assim, criar e manter uma página na Web com informações sobre uma empresa, seu posicionamento de marca e a oferta de produtos podia ser considerado algo disruptivo.
Foi nesse ano que a famosa loja virtual, hoje conhecida como “Magalu”, teve o primeiro formato de venda online no país. Ou seja, não havia e-commerce e as empresas se limitavam a divulgar catálogos e números de contato ou pouco mais que isso. Para as pequenas e médias, pensar em ter seu próprio ambiente digital representava um esforço grande e uma decisão difícil – e, claro, ninguém nesse segmento planejava vender alguma coisa pela internet em 1992!
Com todo o debate atual em torno da ruptura provocada pelas IA regenerativas, eu me lembrei desse passado recente e de uma palestra que então eu assisti – o expositor, quando não tinha mais argumentos para os pequenos empreendedores que o ouviam, concluiu: enfim, se ainda não sabem por que deveriam estar na web, ofereço um último argumento: os seus concorrentes já estão lá.
Mas bem antes da IA, tema que volto a abordar mais adiante neste artigo, é importante destacar que também vivemos a democratização das mídias digitais. Essas novas ferramentas surgiram para facilitar a nossa relação com a internet e ampliar as possibilidades de conexões e negócios. Empresas de todo porte começaram a gerar conteúdo de interesse para clientes, apresentar lançamentos e ofertas, segmentar informações, sofisticar seus catálogos e se aventurar na complexidade do comércio eletrônico.
Especialmente após o ano de 2020 foi quando e-commerce teve o seu boom, com um aumento expressivo de lojas virtuais. As vendas pelos canais digitais explodiram na preferência popular, mudando paradigmas de consumo, permitindo que pequenos negócios pudessem dar escala para as suas vendas, uma condição até então exclusiva das grandes redes varejistas.
Foi aí que o consumidor foi para o centro da cadeia de valor! Uma mudança que ultrapassa os limites da tecnologia – ela alcança a cultura. As marcas que ainda não entenderam essa transformação digital ou que demoraram a embarcar nas novas tecnologias, saíram do mercado ou estão sofrendo para se reestruturar. Esse foi o caso de várias cadeias do varejo brasileiro, que criaram sites e avatares, mas mantiveram uma mentalidade analógica, principalmente em seu planejamento mercadológico.
As relações de consumo e a jornada de compras também evoluíram, com mais automação, múltiplos canais de comunicação e vendas e mais tecnologia nas ações de marketing, com análise de dados capaz de melhor definir seus produtos, públicos e mercados – e não apenas para empresas de grande porte, com acesso para todos aberto pela melhoria da logística e o fortalecimento dos marketplaces.
Enquanto isso, o faturamento do e-commerce no Brasil passou de estimados R$60 bilhões em 2017 para R$186 bilhões no ano passado, enquanto o PIB brasileiro cresceu apenas 22% em reais, aproximadamente, no mesmo período. Foram 395 milhões de pedidos e 87,8 milhões de consumidores virtuais em 2023.
E então veio o PIX e a IA regenerativa logo atrás e tudo vai mudar novamente. Empresas de todo porte vêm utilizando recursos de IA há vários anos, com destaque para as áreas de logística, gestão de recursos, análise de mercado e ações de marketing, mas a adoção massiva e acelerada do Pix como ferramenta para finanças pessoais e a IA regenerativa para customização da comunicação – do atendimento inteligente a programas de fidelização, das mensagens mais pessoais a ofertas exclusivas – nos leva a uma nova ruptura dos padrões de comportamento e à necessidade da adoção de outros paradigmas.
Quem não utilizar os recursos de IA – regenerativa inclusive – para falar com os seus clientes, gerir estoques e o caixa, automatizar negociações e contratos, reduzir mão de obra mal treinada, e etc, vai desaparecer, como aquelas empresas que não acreditaram em cada uma das novas e disruptivas tecnologias.
Fábio Torino, CEO da Weonne