Até meados do século passado, pré-história da invasão do Brasil pela língua anglo-americana, as coisas eram diferentes. Que o dissesse Fred Jorge, o maior sucesso, aqui, entre os versionistas de músicas populares americanas pré-invasão do mercado. Sim, pré-invasão, porque já dispomos hoje, em casa, de emissoras de rádio celebrando a história de músicos e músicas lá de cima como se fôssemos todos do Alabama ou Connecticut. Fred foi um ponto temporal intermediário entre a ascensão da riquíssima MPB e a completa invasão alienígena. Pois consta que, em fins dos anos 1980, conversações entre o presidente Ronald Reagan e a primeira-ministra Margareth Thatcher desembocaram na elevação da língua inglesa, pelo mercado, ao patamar universal que ocupa agora. Isn’t it, my bro?
Voltando aos tempos ”pré-históricos”, predominavam no rádio os musicais, novelas, programas policiais, humorísticos e jornadas esportivas. Saltava aos ouvidos que, para anunciar uma música, o locutor dizia seu intérprete, autoria, título, arranjo e o que mais fosse. Nada disso dobrou os tempos. Já neste século, muito estranhamente, as emissoras, nem elas nem as de TV, se veem na obrigação de informar os nomes dos pais da obra. Não se sabe como, nesses casos, proteger os direitos autorais. Há 21 anos, um projeto aprovado pela Câmara Federal, determinou que as emissoras fizessem as menções, mas nada aconteceu de lá para cá.
Já que citei Fred Jorge, lembro que morreu em 1994, em sua cidade natal, Tietê, interior de São Paulo. Morreu pobre, apesar de citado com frequência ao anúncio de músicas mil, versões e composições suas gravadas por Celly Campello, Carlos Gonzaga, Cauby Peixoto, Roberto Carlos, ngela Maria, Sérgio Reis, Moacyr Franco, Ronnie Von, Tony Campello e outros cantores de sucesso do século passado, quando os direitos autorais também não eram tão direitos. Ganhador do prêmio “Roquete-Pinto” da TV Record como o maior versionista musical de 1964, Fred já não via ir tão longe esse lado de sua carreira, que acumulava ao lado da produção de rádio e TV, estas sim, garantidoras de sua aposentadoria.
Conheci pessoalmente Fued Jorge Japur (esse o nome dele) em meados dos anos 70, numa visita que fez à TV Cultura. Conversamos informalmente. Aparentou-me um sutil abatimento pela tomada do mercado por uma avalanche de músicas em língua inglesa, guitarras elétricas, baixos e baterias do mesmo sotaque, que falavam mais diretamente às novas gerações.