Somos inundados por imagens e notícias a partir do momento em que acordamos em um novo dia: nas redes sociais, e-mail, noticiário online e na TV. É tanta informação, tanto ruído, que às vezes fica difícil discernir o que realmente importa. Nesse fluxo acelerado, nem sempre lembramos que, para além de tudo isso, há gestos silenciosos e potentes acontecendo todos os dias. Um deles é o voluntariado.
Escolher se voluntariar, hoje, é quase um ato de resistência ao imediatismo, à indiferença, à lógica de que só vale o que é visível. É também um convite à conexão: com o outro, com a comunidade, com aquilo que nos move enquanto seres humanos. Mais do que ajudar, voluntariar-se é perceber que não há lado de cá ou lado de lá, e sim uma sociedade que só faz sentido quando caminhamos juntos.
Segundo o IBGE, mais de 7,3 milhões de brasileiros se dedicaram a atividades voluntárias em 2022. Embora o número seja significativo, ele representa apenas 4,2% da população com 14 anos ou mais: o que mostra que ainda há um vasto campo a ser mobilizado. Em um país com tantas desigualdades e desafios mentais e estruturais, a atuação voluntária é uma força social estratégica e necessária.
A boa notícia é que esse cenário está evoluindo. Segundo o relatório Perspectivas para a Filantropia no Brasil 2025, produzido pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), o voluntariado passou a ser compreendido de forma mais estruturada e qualificada. Um dos movimentos destacados no estudo é a crescente integração de voluntários em funções técnicas e de governança, como conselhos deliberativos, comitês e diretorias de organizações sociais. Trata-se de um voluntariado mais profissionalizado e alinhado a estratégias de médio e longo prazo.
Esse novo perfil amplia não apenas o alcance das ações, mas também sua sustentabilidade. Ao trazer repertórios diversos e experiências complementares para dentro das organizações, os voluntários contribuem para um modelo mais colaborativo, transparente e eficiente de atuação no terceiro setor. É o que o IDIS chama de match estratégico entre talentos voluntários e as demandas institucionais da sociedade civil.
Tenho o privilégio de acompanhar esse movimento de perto na Liga Solidária. Voluntários que chegam com o desejo de ajudar e, ao se engajar, descobrem um novo pertencimento. São pessoas que doam seu tempo, mas recebem em troca senso de propósito, novas conexões e uma vivência mais plena da cidadania. Por exemplo, foi nesse espírito que nasceu a campanha “O fio que conecta propósitos”, inspirada na lenda asiática do fio invisível que une pessoas destinadas ao encontro. Para nós, esse fio é o voluntariado – um elo silencioso, mas determinante, entre histórias, causas e transformações.
E se há uma ponte poderosa entre o voluntariado e a cidadania, há também um caminho estratégico entre o voluntariado e o mundo dos negócios. Programas de voluntariado corporativo vêm ganhando espaço dentro das empresas como ferramentas de desenvolvimento humano, engajamento de equipes e fortalecimento da cultura organizacional. Um levantamento global realizado pela Deloitte mostrou que 89% dos executivos acreditam que o voluntariado melhora o clima interno das empresas e reforça o senso de pertencimento dos colaboradores.
No Brasil, esse movimento começa a se consolidar. De acordo com a pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, realizada pelo IDIS e pelo Instituto Datafolha, 52% dos voluntários entrevistados disseram que o trabalho voluntário fortaleceu sua atuação profissional, desenvolvendo competências como liderança, empatia, comunicação e trabalho em equipe.
Em tempos de transformações profundas no mundo do corporativo, investir em impacto social não é mais um diferencial reputacional, mas uma necessidade estratégica. Empresas que estimulam a participação ativa de seus colaboradores em causas sociais constroem marcas mais autênticas, geram impacto positivo em seus territórios e ampliam sua capacidade de atrair e reter talentos.
Voluntariar-se, afinal, é fazer parte de algo maior. É reconhecer que o mundo não se transforma apenas por grandes ações, mas por milhares de fios invisíveis que nos conectam todos os dias e que, juntos, formam a rede de uma sociedade mais justa, humana e solidária.