A pergunta “o que te faz levantar da cama todas as manhãs?” é talvez a mais importante da história da filosofia. Muito forte, indelicada e, sobretudo, revolucionária. Mas alerto: quem pensa muito nisto geralmente fica íntimo da amiga (in)Sônia.
Acho que foi Marco Aurélio quem fez a pergunta, ainda na Antiguidade, e perdeu muitas noites de sono…
Não ouso responder, e desconfio ainda que não haja apenas uma resposta. Acredito que a esperança e, mais do que isto, os sonhos, assim no plural, o que nos move. Afinal, o que pode fazer as pessoas aceitarem imperfeições, humilhações, injustiças, tristezas, e desgraças das mais abissais?
O segredo talvez seja saber mudar de sonhos, que muitas vezes são destroçados pela realidade, e, em algumas vezes, este aviso é “invisível”.
Entre aspas porque o sinal não é claro: o sonho acaba , todos sabem, menos o sonhador. Chega a ser cruel.
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Dostoievski minimizou os sonhos: “essa esperança que nos impulsiona é também o que nos condena. É a esperança que nos ilude, que nos faz acreditar que a felicidade completa está ao nosso alcance, quando, na verdade, somos eternos prisioneiros de nossas próprias ilusões”, diz ele, em Os Irmãos Karamázov.
Conto com os dedos das mãos meus sonhos destroçados: 10… A redação entrega uma certa vergonha em admitir esta quantidade. Deve ser muito mais. “Que eu me lembre”, desvio de assunto, a pedido do meu assessor de imprensa.
É porque às vezes acho que eu poderia ter me dado muito mal na vida… Fico pensando então se estes sonhos que acabam são fracassos… Importa ?
Quando superamos o tempo de sonhos destroçados, entendemos a dimensão de escapar do fracasso. É uma vitória épica. Mas não nos convencemos…
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Volto a Dostoievski: “no fim, descobrimos que a vida é uma luta constante, uma busca incessante por algo que nunca seremos capazes de possuir plenamente.”
Ok.
É exatamente por isto que devemos renovar nossos sonhos .
Se realizei 9 ou 10 sonhos é porque desisti daqueles que não dariam certo . Sou volúvel, desisto fácil ? Não, me adapto.
A esperança é última que morre – ou será a única?
Dostoievski na essência!
O poço da água limpa é razoavelmente fundo, mas o importante mesmo é ver luz em sua saída.
[O título poderia ser outro: Memórias felizes de sonhos que nascem]
Há luz ? Então vamos acordar.
[fim]