A Inteligência Artificial (IA) tornou-se um dos pilares da revolução tecnológica global, impulsionando inovação em diversas áreas, desde a saúde até a segurança cibernética. No centro dessa transformação estão os talentos de elite que lideram a pesquisa e o desenvolvimento na área. O Global AI Talent Tracker 2.0, produzido pela MacroPolo em parceria com o Paulson Institute um “think and do tank” independente e apartidário dedicado a promover relacionamentos globais que promovam a prosperidade econômica e o crescimento sustentáve, apresenta uma análise detalhada sobre a distribuição e fluxo desses talentos, com base nos pesquisadores que publicaram na prestigiada conferência Neural Information Processing Systems (NeurIPS). O estudo revela tendências significativas que impactam diretamente a capacidade dos países de inovar e liderar na corrida pela supremacia em IA.
Os Estados Unidos continuam sendo o maior polo de atração de talentos em IA. O estudo aponta que 64% dos pesquisadores de elite atuam nos EUA, mesmo que tenham se formado em outros países. Esse domínio se deve a fatores como a presença de grandes empresas de tecnologia, universidades de ponta e um ambiente favorável à inovação. Contudo, observa-se uma leve queda na taxa de retenção: enquanto em 2019 os EUA absorviam 70% dos talentos globais, esse número caiu para 64% em 2023. Isso se deve a políticas imigratórias mais restritivas e à ascensão de outros centros de pesquisa globais, como a China e a Europa.
No passado, uma parcela significativa dos talentos chineses e indianos migrava para os EUA sem perspectivas de retorno. No entanto, o estudo indica que esses países estão conseguindo reter mais pesquisadores em suas próprias instituições e empresas de tecnologia. A China, por exemplo, investiu cerca de US$ 150 bilhões na última década para fortalecer sua infraestrutura de pesquisa em IA, resultando em um aumento de 18% na retenção de seus talentos. Atualmente, 45% dos pesquisadores chineses formados no exterior retornam ao país, em comparação com apenas 20% em 2015.
A Índia também vem se consolidando como um hub tecnológico, com incentivos a startups e inovação. Em 2023, 35% dos pesquisadores indianos em IA decidiram permanecer no país, um aumento considerável em relação aos 18% registrados em 2017. Esse avanço reflete a criação de programas como o India AI Mission, que destina US$ 1,2 bilhão a projetos de pesquisa em IA e machine learning.
Desde 2019, a mobilidade global de talentos em IA tem diminuído. O estudo aponta que essa queda pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo políticas governamentais mais protecionistas, a pandemia da COVID-19 e um maior investimento doméstico em pesquisa por parte de países que antes dependiam da migração de seus talentos. Entre 2019 e 2023, a taxa de mobilidade global de pesquisadores em IA caiu 15%, com mais talentos optando por permanecer em seus países de origem ou migrar para centros alternativos, como Singapura e Canadá.
Esse fenômeno pode alterar a dinâmica de colaboração internacional e concentrar ainda mais o conhecimento em alguns poucos centros, limitando o intercâmbio científico. Singapura, por exemplo, viu um crescimento de 25% na sua capacidade de atrair talentos de IA entre 2020 e 2023, tornando-se um destino alternativo a EUA e China.
O Brasil vem tentando fortalecer sua presença no cenário global de IA, embora ainda enfrente desafios significativos. De acordo com o estudo, cerca de 75% dos pesquisadores brasileiros formados nas melhores universidades do país acabam migrando para centros internacionais, especialmente os EUA e a Europa. A falta de financiamento contínuo e infraestrutura de ponta são os principais fatores que impulsionam essa fuga de talentos.
Para tentar reverter esse quadro, o Brasil lançou recentemente o programa AI for Innovation, com um investimento de R$ 2 bilhões para fortalecer o setor e atrair pesquisadores brasileiros que atuam no exterior. Além disso, o governo federal anunciou parcerias com universidades e empresas privadas para criar hubs de inovação focados em IA em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Iniciativas como essas buscam não apenas reter talentos nacionais, mas também posicionar o Brasil como um player competitivo no cenário internacional de IA.
O avanço de setores como agronegócio e biotecnologia no país também tem impulsionado o investimento em IA, com startups desenvolvendo soluções inovadoras para problemas locais. No entanto, especialistas alertam que ainda é necessário um esforço maior para garantir um ambiente regulatório mais favorável à pesquisa e ao desenvolvimento na área.
A distribuição de talentos impacta diretamente o avanço da IA no mundo. Os EUA seguem na dianteira, mas o avanço da China e de outros países desafia essa supremacia. Para manter sua posição, os EUA precisarão continuar investindo em políticas de atração e retenção de talentos, além de fortalecer parcerias acadêmicas e empresariais. Atualmente, o país destina US$ 4 bilhões anuais para bolsas de pesquisa e programas de incentivo a pesquisadores estrangeiros.
Ao mesmo tempo, países emergentes têm uma oportunidade única de consolidar seus ecossistemas de IA ao oferecer melhores condições para seus pesquisadores. No caso do Brasil, apesar dos desafios, iniciativas recentes indicam um caminho promissor para reduzir a fuga de talentos e fortalecer a inovação local.
O relatório “Global AI Talent” nos mostra que o futuro da IA será definido não apenas pelo avanço tecnológico, mas também pelas estratégias adotadas pelos países para atrair, reter e desenvolver seus talentos. A competição por esses profissionais está apenas começando e, no longo prazo, determinará quais nações liderarão a próxima revolução tecnológica.