A modernidade tem uma importância muito grande porque foi uma nova forma de pensar, de ver o mundo na história.
Primeiramente, surgiu o pensamento clássico grego, depois o pensamento romano que tinha as suas diferenças.
Depois do pensamento clássico na Grécia e Roma, houve o pensamento medieval.
O pensamento moderno surgiu concomitantemente ao pensamento medieval, até que em certo momento, o pensamento moderno se tornou hegemônico.
O Deus medieval é o Deus que pune que exige ser adorado e que castiga severamente quando contrariado.
Um filósofo holandês, de origem portuguesa cuja família era judia, saiu de Lisboa fugido na época da Santa Inquisição e foi para os chamados Países Baixos, mais precisamente para a Holanda.
Esse pensador foi um dos maiores filósofos da modernidade, Baruch de Spinoza (1632-1677).
Spinoza foi um gênio!
O filósofo é muito mais do que um professor porque o filósofo é aquele que vive a filosofia, tanto é que Spinoza durante toda a vida recebeu inúmeros convites para lecionar em diversas universidades, mas ele agradeceu e negou todos os convites.
Ele preferiu continuar na sua profissão simples de polidor de lentes para ter o que ele chamava de “liberdade de pensar”.
E para ele, essa atitude deu muito certo, pois ele escreveu uma das obras mais magníficas da história. Ninguém falou de Deus de uma forma tão linda como ele.
O título da obra é “Ética demonstrada à maneira dos geômetras”. Por causa dessa obra, Spinoza conseguiu fazer algo muito interessante, ou seja, conseguiu a proeza de ser excomungado por duas religiões diferentes.
Spinoza conseguiu ser excomungado por sua própria religião, pelo seu povo, que é o judaísmo, e conseguiu ser excomungado pelo Catolicismo que eram religiões importantes e influentes da época.
Porém, nada e ninguém conseguiram tirar a paz de espírito de Spinoza!
Ou seja, a paz daqueles que sabem o que estão falando. A paz daqueles que sabem que estão supostamente com a razão.
Afinal, o que disse Spinoza para ser excomungado e para receber tão drástica punição?
Ele disse este pensamento: “Deus sive natura”, ou seja, Deus é a natureza.
Até hoje, algumas pessoas afirmam ser o Spinoza um panteísta que é aquele que acredita que Deus, como na matemática, é a soma de todas as coisas, mas, na verdade, não é isso que Spinoza entendia.
Para Spinoza Deus é imanente e transcendente.
Para a Igreja Católica, para o judaísmo e para o Islamismo e dentre outros, Deus é transcendente, isto é, Deus transcende a tudo e Deus é mais do que tudo.
Na verdade, se nós existimos ou não, para Deus é, completamente, incipiente e desnecessário, pois a existência de Deus não tem ligação e não depende, absolutamente, da nossa existência.
Deus poderia se quisesse encerrar com a vida em todo o universo, incluindo a vida de todos nós.
Deus é onipotente, então, a existência de Deus não depende da nossa existência em si.
Ou seja, a nossa existência não diz nada para a existência de Deus.
Essa é a questão!
Isso é um Deus transcendente!
E o que é um Deus imanente?
Seria um Deus que está contido em todas as coisas!
Só que o Deus de Spinoza é diferente, pois ele afirma que só existe uma única substância em todo o universo. E o nome dessa substância é Deus.
Spinoza quis dizer com isso que tudo, absolutamente, tudo está contido em Deus, ou seja, nada pode estar fora de Deus.
Absolutamente nada!
Portanto, Deus está em todas as coisas, está, inclusive, aqui neste momento.
Ou seja, “eu” estou dentro de Deus e Deus está dentro de nós.
Tudo está contido em Deus!
Os múltiplos universos estão contidos em Deus!
Portanto, Deus, Ele não é a apenas a soma de todas as coisas, Ele é mais do que todas as coisas, justamente, porque Ele é imanente e transcendente.
O que Spinoza afirmava era controverso e bem diferente de tudo o que se falava na época.
Isso era motivo para excomungá-lo?
Qual é a finalidade da religião?
Religião vem do termo “religare”, isto é, “nós nos desligamos de Deus e a religião vai nos religar”.
Se tudo está em Deus, eu nunca me desligarei de Deus.
Isso é uma impossibilidade fática disse Spinoza.
Mas se eu nunca consegui me desligar de Deus, eu sempre estive ligada a ele.
Se eu sempre estive ligada a Ele, eu não preciso de religião.
Deus está dentro de mim e eu estou dentro de Deus. Portanto, eu não preciso de religião para estar conectado com Deus, justamente, porque eu nunca me desconectei dele.
O pensamento de Spinoza é revolucionário e como se sabe, religião também é poder!
Logo, os poderosos da época perceberam que se todos entendessem e concordassem com Spinoza, eles estariam em péssima situação, pois perderiam poder e muito poder.
Spinoza pregou uma religiosidade, mas não uma religião.
Enfim, é necessária a religiosidade para estar conectado com Deus.
Para a época esse pensamento era uma “loucura”!
E, portanto, por causa disso, ele foi excomungado.
Erasmo de Roterdã (1466-1536), teólogo e escritor holandês, disse que nenhum ser humano foi mais embriagado de Deus no mundo do que Baruch de Spinoza.
O pensamento de Spinoza é muito interessante porque sempre que estivermos angustiados e preocupados com a vida, poderemos pensar que Deus é a natureza (Deus sive natura).
Ou seja, não temos que ficar desesperados, pois Deus está dentro de nós, não estamos sozinhos.
Se “Deus sive natura”, ou seja, se Deus é a natureza, não queria com isso Spinoza afirmar que Deus seria um ser desprovido de intelecto. Portanto, Deus é absolutamente tudo, ou seja, “Deus sive natura”, Deus está em tudo. E nós estamos em Deus, segundo Spinoza.
Enfim, ao estudarmos Spinoza, podemos refletir sobre a modernidade e o pensamento contemporâneo a fim de podermos pensar sobre o futuro da humanidade.
“A mente humana é parte do intelecto infinito de Deus.”
Baruch Spinoza (1632-1677), filósofo holandês.