O que seria a velhice?
Com certeza, o inevitável período da vida no qual há uma involução fisiológica e o retardar do pensamento.
Portanto, o homem é idoso com suas artérias e moço como suas ideias!
A capacidade para aprender decresce com o passar do tempo e qualquer informação nova não encontra acomodação facilmente e as impressões se apagam com rapidez da mesma forma que a memória do povo.
Com o avanço da idade, a unidade se desagrega e até a coordenação vacila.
E da mesma maneira que a criança cresce cada vez mais, o idoso tem sua velhice tanto mais precipitada quanto mais velho é.
Antes da grande operação da morte, o idoso cai numa apatia de sentidos e vontade.
Ou seja, as sensações diminuem de intensidade, a vitalidade esmorece, e nasce o desejo de viver baseado num indiferentismo próprio de uma paciente espera.
O medo da morte mistura-se com a vontade do repouso.
E morre o ser humano no apogeu da existência quando viveu bem, e teve tudo do amor, enfim, pode morrer contente.
E aí surge a pergunta: “No palco livre da vida, eu representei a melhor peça?”
Essa dúvida rói o coração da sabedoria e envenena a velhice.
E será que na jornada da vida a história se mostra em um círculo vicioso?
Ou seja, os homicídios continuam, as aflições, os corações partidos, a lentidão da lei, a corrupção, a guerra, a incompetência e a extrema brevidade do amor e assim por diante.
Tudo isso atrofia a alma apesar da luta pela vida.
Enfim, a velhice, como a própria existência, está também imbuída de tragédia.
Como louvar a vida quando a vemos prestes a abandonar-nos?
Porém, essa pode continuar repleta de esperança em outro mundo depois do perecimento do corpo.
Na verdade, enquanto houver sofrimento na Terra, as flechas da esperança apontarão para o céu.
Somos seres inseridos na efemeridade da existência no planeta, caímos como folhas e morremos para que se consolide a perpetuidade.
E no meio da própria morte, a vida renova-se infinitamente.
A sabedoria pode vir como o dom supremo da velhice e, assim, vemos cada parte da relação entre os seres humanos como um Todo que é igual ao Uno.
Portanto, a morte pode ser parcial, pois não atinge a Vida.
O indivíduo morre, mas a vida é incansável, insuscetível de desânimo e continua superando a intempéries próprias da existência e vencendo.
A morte vence o efêmero, e a eternidade se sobrepõe a ela.
Enfim, os indivíduos falham, mas a vida vence!
“Se matamos uma pessoa somos assassinos. Se matamos milhões de homens, celebram-nos como heróis.”
Charlie Chaplin (1889-1977), ator, comediante, diretor, compositor, roteirista e cineasta.