Este ano minha turma da Escola Paulista de Medicina faz 50 anos de formada.
Entramos na “Escolinha”, como carinhosamente a chamamos, por meio do vestibular do CESCEM, em 1970.
Éramos 120 alunos, muito jovens no geral, cheios de sonhos, inseguranças e vontade de exercer a medicina.
Eu tinha 17 anos. Me formei com 23 anos.
Nossa turma é a de número 38, e nos formamos 6 anos depois, em dezembro de 1975.
Foram anos inesquecíveis, desde a primeira aula de anatomia, quando fomos apresentados ao cadáver, até o último estágio do internato.
Foram dias intensos, de 8 horas de aulas, mais tempo de estudos em casa, ou na biblioteca da Bireme, sozinhos ou em grupos. Foram aulas práticas, de Morfologia, Fisiologia, Patologia, Propedêutica, Clínica Médica e Cirúrgica, com todas as suas especialidades, e, é claro da medicina preventiva. Uma “Escolona”!
É claro que havia a vida de jovem na Paulicéia. Foi muito rica e intensa. As amizades e os namoros foram incríveis.
Eu, logo no início, me engajei na luta estudantil de oposição à ditadura militar, no centro acadêmico, na reorganização da UNE e da UEE, nos movimentos oposicionistas do país. Fui preso por várias vezes, fui torturado pelo Coronel Ustra em 1972. Sobrevivi!
Me dedicava extremamente aos estudos, passei sem precisar de exame na maior das vezes. E olha que a Escola era muita exigente.
Admirava e cultuava muitos Professores. Fui Monitor de Farmacologia de Patologia Clínica. Tínhamos Mestres de verdade, abnegados e dedicados.
Nossa “Turma 38” era de composição diversa. Pessoas de classe sociais diferentes, com visões de mundo diferentes. Mas, convivemos juntos e nos entendemos. O curso, a Escola, a Medicina era maior do que tudo.
Depois da formatura houve uma certa dispersão. Cada um foi enfrentar o mundo lá fora.
Eu fiz exame de residência médica para cirurgia. Passei em 3 lugares, e escolhi o IAMSPE-HSPE, pois diziam que lá o residente operava bastante.
Tive como Mestre o Dr. Nagamassa Yamaguchi. Operei muito naqueles dois anos de 1976 e 1977. Fundamos a AMERIAMSPE (Associação dos Médicos Residentes dos Estado de São Paulo) e fui seu primeiro Presidente.
Em 1978, entrei na chapa do Dr. Agrimeron Cavalcante para a eleição do Sindicato dos Médicos, onde fui Diretor por 9 anos.
Sempre trabalhando, atendendo, operando e fazendo política médica, de saúde pública e social.
Em 1976, fomos em 14 colegas da EPM para fundar um Ambulatório Médico Voluntários na Igreja Bom Jesus do Cangaíba, na Zona Lesta de São Paulo. Onde estamos até hoje, eu, o Dr. Francé e o Dr. Nacime.
E assim o tempo passou, depois de participar de muitas lutas políticas pela democracia, fui Vereador por São Paulo por 5 vezes, em 2020 desisti de uma nova reeleição. Não quis mais.
Mas, nunca deixei de atender e operar pacientes, nesse tempo todo. Seja no meu consultório em Santo Amaro, seja nos diversos hospitais públicos municipais e estaduais, e privados que trabalhei.
Me aposentei, mas continuo exercendo, firme, a Medicina.
Junto com minha família e a política, a Medicina é minha paixão.
Devo isso à Escola Paulista de Medicina, ao convívio com minha turma 38 e os demais colegas e professores da “Escolinha”.
Ao completarmos 50 anos de formados, estamos nos congregando como irmãos. Irmãos da causa médica.
A emoção dos 50 anos tomou conta de nós. Revivemos lembranças, conversamos, muitos estavam em lugares distantes e outros que estavam mais afastados reapareceram.
Estamos, agora com os cabelos brancos, aqueles jovens da década de 70. Lamentavelmente, perdemos 25 colegas, alguns muito precocemente, que serão homenageados.
E nós que “ainda estamos aqui”, nos reunimos para nosso “Jubileu de Ouro”.
No dia 05 de dezembro, vamos nos encontrar no Anfiteatro Leitão da Cunha, faremos um ato comemorativo, descerraremos nossa placa de cinquentenários, reveremos os recantos sagrados de nossa Escola e partiremos para uma atividade festiva num clube próximo.
Viva a turma 38!
Viva a Escola Paulista de Medicina!