A Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou na 4ª feira (9.jul.2025) uma inacreditável moção de louvor ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, horas antes de o norte-americano anunciar uma superultrataxação protecionista de 50% sobre produtos brasileiros, acompanhada de mensagens políticas em prol da anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Vale lembrar que Trump vem se notabilizando pela deportação em massa de imigrantes algemados, em cenas medievais que vêm chocando o mundo, sendo objeto de decisões judiciais desautorizadoras de seus atos. Por decreto, determinou a suspensão da aplicação da FCPA (Lei de Práticas de Corrupção no Exterior), a mais paradigmática lei anticorrupção, divisor de águas para o mundo. São inúmeros exemplos de atos durante sua gestão, com indícios de que pretende mudar a Constituição para se manter no poder.
Como classificar o ato de homenagear um estadista que impõe essa taxação absolutamente abusiva, que prejudica o Brasil e fere todas as regras mais elementares do direito internacional?
Tendo em vista o dever de lealdade à nação e o compromisso democrático de exercer o poder em nome da sociedade e a seu serviço, parece-me no mínimo desleal tal proposição, tendo em vista que a atitude de Trump quer prejudicar não só Lula, mas os brasileiros, pelos efeitos econômicos e sociais diretos. Que dizer da atitude do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, articulador da manobra? São gestos que traem os brasileiros e lesam o país.
Segundo inteligente análise do sempre embaixador Rubens Barbosa, que representou por 10 anos o Brasil em Washington, por trás desse movimento de Trump há algo que não se percebeu, muito mais ardiloso, premeditado e perverso. Não se trata de arrogância e abuso do poder de tributar, segundo Barbosa declarou em reiteradas entrevistas.
Ele acredita que Trump e o clã Bolsonaro (eu diria ainda que com provável arquitetura de Steve Bannon) ajustaram a manobra para criar preocupação no Brasil, queda da Bolsa, alta do dólar e incertezas, para surgir na sequência o super-herói Jair Messias Bolsonaro vestido com sua capa dourada, montado em seu cavalo branco e anunciando que depois de intenso trabalho, conseguiu convencer o presidente norte-americano a rever as taxas, o que Trump confirmaria publicamente.
Cenas evidentemente teatrais, pois o jogo já estaria combinado de antemão, servindo apenas para que Bolsonaro capitalizasse politicamente o episódio —fortalecendo, assim, a tese da anistia—, ainda que o beneficiado seja um eventual apadrinhado seu, apresentado como candidato conservador da direita liberal.
Em paralelo, todos nós assistimos às cenas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cuja polícia está totalmente fora de controle, querer arrebatar de Bolsonaro a capa de super-herói salvador da pátria no episódio da super taxação.
Assim como o senador Flávio Bolsonaro construindo ambiente de angústia coletiva, declarando que o Brasil deveria se curvar obrigatoriamente às supertaxas, pois caso contrário correríamos o risco de ter lançada contra nós uma bomba atômica, como ocorreu com Hiroshima e Nagasaki.
Com esse verdadeiro fogo cruzado em que cada qual trabalha diuturnamente em prol de seus próprios interesses particulares, o pobre cidadão brasileiro sobrevive, cercado de incertezas e cada vez menos esperançoso, diante do total abandono dos valores republicanos e das referências democráticas, pela abdicação da prevalência do interesse público.
Fonte: Poder 360