Uma resposta serena à visão de que só o poder pode mudar o país.
Por José Guimarães Monforte () | 17 de Julho de 2025
Muita gente boa já desistiu. Desistiu de acreditar. Desistiu de se envolver. Desistiu do país. Não por fraqueza. Mas por exaustão. São décadas de promessas não cumpridas, de escândalos sem consequências, de reformas que nunca chegam. Desacreditar, neste contexto, é compreensível. Mas parar de tentar – isso é o que não podemos aceitar. O poder, por si, não muda nada. A descrença mais paralisante é a que afirma que “só quem tem poder pode mudar o país.” É uma crença disfarçada de realismo, as que serve, no fim, à estagnação. Ela nos transforma em observadores. Nos convence de que tudo está nas mãos de “eles” – os políticos, os partidos, os donos da máquina. Mas a verdade é outra: Sem pressão de fora, o poder se acomoda. Sem cultura de base, o poder se corrompe. Sem cidadania ativa, o poder perde o rumo. Foi a sociedade que sempre mudou a história. Não é a primeira vez que o país vive um desencanto. E não é a primeira vez que a reação viria de baixo para cima. . Foi assim com o Movimento das Diretas Já, que mudou o rumo da transição política. . Foi assim com a Campanha da Ficha Limpa, que veio da sociedade e virou Lei. . Foi assim com a pressão pela transparência orçamentária e controle dos gastos públicos, que gerou normas que antes pareciam impossíveis. . E mesmo em momentos mais discretos, foram redes de cidadãos e profissionais que impulsionaram políticas de saúde, educação e combater à corrupção. Nada disso veio de um centro de poder iluminado. Veio da insistência das pessoas comuns — lúcidas, organizadas e dispostas a não desistir. Desistir é tudo o que esperam de nós. A lógica do sistema, fundamentado no patrimonialismo, é simples: cansar o cidadão. Criar um ciclo vicioso de frustração, apatia e abandono. Quem se informa se irrita. Quem se indigna se isola. Quem tenta participar se decepciona. Resultado: só sobra espaço para quem quer manter tudo como está . Este artigo não é um apoio ingênuo ao otimismo. É um convite à responsabilidade madura. Sabemos que há razão para o cansaço . Mas também sabemos que nenhuma transformação virá de fora – se não vier primeiro de dentro. O ceticismo é compreensível. A desistência, não. Não por heroísmo. Mas por dever. Não porque acreditamos cegamente. Mas sabemos o que está em jogo. E porque, mesmo com tudo, ainda vale a pena lutar pelo país que pode – e merece – ser reconstruído. () com apoio editorial de ferramentas de inteligência artificial