Encontramos espíritos filosóficos oriundos de todos os horizontes, das artes, das letras, das ciências e das técnicas que deixaram um verdadeiro testamento filosófico.
A filosofia não se confunde com a verborreia superficial dos “snobs” devido ao uso de termos complicados e sofisticados: ela é mais, muito mais, do que um verniz cultural.
O que surpreende na filosofia é o fato de tratando de problemas tão simples, tão concretos, tão diretos e imediatamente relacionados (como a existência, como por exemplo, um homem ter de escolher a sua vida, hesitar entre duas soluções e uma deveria ser a certa ou a outra a errada, discernir entre o bem e o mal), esbarramos na impossibilidade de exprimir as coisas claramente.
Na maior parte dos casos, é utilizada pelos maiores filósofos de todos os países e de todos os tempos uma gíria imperdoável, quer se trate de Aristóteles ou Sartre.
A dificuldade da língua, o vocabulário ou do estilo, traduzem-se por inúmeras análises esotéricas, pouco acessíveis ao comum dos mortais e que não esclarece o leitor não iniciado.
Aliás, Platão e Aristóteles distinguiam os cursos “esotéricos”, reservados apenas aos iniciados, das conferências públicas, que eles denominavam “exotéricas”, para os profanos.
Continuamos em presença de filósofos muito abstratos que não fazem o mínimo esforço para se colocarem ao alcance do grande público, ou seja, sob este ponto de vista, em dois mil e quinhentos anos a filosofia parece não ter progredido.
Porém, existe um grande público que deseja iniciar-se na filosofia, compreender os filósofos e seguir as suas ideias.Por exemplo, por meio das nossas ações cotidianas, “como agir?”, da nossa reflexão sobre o mundo e o que pode acontecer no futuro, como alcançar a verdade? Dos gostos ou da mais simples beleza e assim por diante.
Será que a culpa por essa situação talvez seja que os próprios filósofos não se considerem muito a sério?
Pascal afirmava: “Fazer pouco da filosofia, é verdadeiramente filosofar.”.
Merleau-Ponty afirmava: “A filosofia pode ser trágica; séria é que ela nunca é.”.
Na realidade, se a filosofia fosse uma coisa tão pouco séria, se fosse somente um jogo, por que é que todos os regimes totalitários, todos os governos ditatoriais teriam proibido a filosofia?
Seria a filosofia perigosa?
Filosofia e governo não são incompatíveis e ao longo da história muitos soberanos quiseram ter na sua corte ou na sua proximidade, um filósofo oficial, como Descartes para a rainha Cristina e Voltaire para Frederico II, por exemplo.
Já Platão anunciava na sua “A República” que só com o pensamento se governa um Estado; os melhores governantes são filósofos.
A filosofia nasceu no século VI antes de Cristo, graças a Pitágoras, o homem da tábua de multiplicação e do célebre teorema.
Portanto, o objetivo da filosofia é a busca da verdade e a filosofia engloba todo o saber humano, incluindo a ciência.
Aliás, quase todos os sábios foram filósofos e quase todos os filósofos foram sábios. Sócrates e Platão adoravam geometria e Aristóteles era um aficionado por ciências naturais.
Descartes inventou a geometria analítica, a ótica e a álgebra moderna; Leibniz, o cálculo diferencial e integral; Newton era simultaneamente um físico e um metafísico. Lavoisier era um químico e um “alquimista”.
Existe uma verdade científica e uma verdade filosófica.
No princípio, as ciências e a filosofia estavam misturadas.
Ou seja, o saber universal englobava as duas coisas sem a distinguir.
Para Henri Poincaré, grande matemático francês, “a ciência respondia à pergunta como?”, enquanto que a filosofia respondia à pergunta “por quê?”.
Já Aristóteles dizia que era “a procura dos primeiros princípios e das primeiras causas.”.
A filosofia graças à lógica permitiu analisar as situações e determinar as melhores soluções, encontrar a sabedoria pelo domínio das paixões e justeza das decisões.
Ser filósofo é julgar bem as coisas; como disse Descartes: “Basta julgar bem para agir bem.”.
A filosofia se interessa pelo problema de Deus, pelo problema do mundo exterior, pelo problema da imortalidade da alma. Tudo isto faz parte da metafísica.
Para certos filósofos, filosofia e religião se confundem.
São Tomás de Aquino dizia que a filosofia não passa de serva da religião.
No século XX, considera-se que se a filosofia tem a mesma razão de ser e o mesmo fim que a religião não tem, contudo, o mesmo Espírito.
A religião é dogmática!
Porém, só há filosofia no espírito crítico, numa reflexão que contesta e que recusa qualquer crença a priori.
A religião nunca põe certas coisas em questão. Não procede por interrogações, traz soluções e respostas definitivas.
Karl Jaspers, um grande filósofo alemão contemporâneo, dizia que a filosofia nunca traz soluções aos problemas, pois, “a resposta aos problemas levanta sempre novas questões.”.
A filosofia é antes de tudo essencialmente uma reflexão, um constante pôr e repor em questão, uma superação de si mesmo, é uma perpétua busca do ser.
A filosofia é a procura da verdade ou de uma verdade, mas os filósofos não pensam que essa verdade possa tornar-se numa aquisição definitiva ou numa conquista perfeita.
Enfim, continuarão todos a filosofar apesar dos milhares de obras que vão se acumulando.
Portanto, a interrogação, a dúvida, a incerteza são os melhores critérios da reflexão filosófica.
“A filosofia não era o “amor da sabedoria”, mas a “sabedoria do amor.”
Heidegger (1889-1976), filósofo alemão.