Na tarde de ontem (06), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) recebeu o cientista político Rubens Figueiredo, autor do livro “Sofrendo Feliz da Vida – Alegria e Angústia de ser Brasileiro”, para debate literário de sua obra, que faz uma reflexão sobre o Brasil estar bem posicionado nos rankings internacionais de felicidade ao mesmo tempo em que apresenta sérios problemas socioeconômicos.
Figueiredo foi recepcionado pelo presidente Roberto Mateus Ordine, na Plenária da Casa, no 9º andar da sede, na presença de outras lideranças da instituição, como as vice-presidentes Ivani Perrone Bôscolo e Ana Claudia Badra Cotait, que também é presidente nacional do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), instância que apoiou a divulgação do evento.“É com alegria que eu recebo o Figueiredo, grande cientista político, para debatermos sobre nós, brasileiros, que, mesmo vivendo nesta terra de contrastes, somos muito felizes”, declarou Ordine.
O livro trata das características da brasilidade, da postura de não nos levarmos muito a sério e procura identificar de onde vem toda a nossa felicidade. “Somos um país pobre e estamos entre as oito nações socialmente mais desiguais do mundo. Nossa sociedade é violenta, com Justiça morosa e grande população encarcerada. Quase 50 milhões de pessoas vivem sem saneamento básico. Porém, nos dois rankings internacionais de felicidade mais conhecidos, temos posição de destaque”, declarou o autor, explicando o título do seu livro.
Os rankings de felicidade citados são os das pesquisas dos institutos Ipsos, em que o Brasil pontua o 5º lugar como uma das nações mais felizes; e Gallup, em que figuramos o 44º, entre 140 países participantes.
“O Brasil é o único país [cujos respondentes da pesquisa Gallup pontuaram] com um monte de insatisfações, mas no final respondem que são felizes”, contextualizou Figueiredo, enfatizando que, mesmo o brasileiro não vivendo bem por causa de salário – metade dos adultos ganha menos de R$ 13 mil por ano –, sem moradia própria, baixa qualidade na educação, subempregos, entre outras mazelas, somos e estamos felizes.
O autor, durante 01h, conduziu o evento respondendo a perguntas da plateia – majoritariamente feminina, composta por membros do CMEC. Um dos questionamentos veio de Ivani Bôscolo, sobre o porquê de o brasileiro ser assim, feliz, em meio a tantas situações não tão felizes. Figueiredo respondeu que, durante o processo de escrita do livro, entrevistou trabalhadores que atuam como garçons, motoristas de aplicativos, seguranças, entre outros, e chegou à conclusão de que o brasileiro é “herói de si mesmo”, ou seja, cada um é protagonista de sua própria aventura de melhorar de vida, e esse processo é o que justifica, em muitas ocasiões, a felicidade. “É difícil fazer um balanço positivo da vida se não existir algum tipo de protagonismo”, exemplificou.
Um dos capítulos do livro é justamente “Os heróis de si mesmos”, que já abre com a seguinte citação de Winston Churchill: “O sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.
Figueiredo confidenciou ainda que, em suas pesquisas, identificou os “drivers da felicidade”, que acompanham as respostas dos brasileiros para justificar por que são felizes: “ter um emprego, família, saúde, amor e alguma condição material”. Segundo ele, há também alguns tipos de felicidade: “felicidade do momento; o acordar feliz no modo ‘vi um passarinho verde’; e a felicidade dopamínica, que envolve expectativas por um determinado evento do dia e amplia a adrenalina”.
Presente no debate, o vice-presidente da ACSP Andrea Matarazzo pontuou que o livro mostra que a felicidade do brasileiro, na verdade, é um “antídoto para todos os problemas, uma necessidade que permite a nossa sobrevivência e é, sim, uma felicidade sincera”. Entretanto, Matarazzo problematizou dizendo que “falta capacidade de o brasileiro enfrentar e resolver seus problemas”, como o feminicídio, a fome e a cultura da corrupção, e seguir além das piadas que faz de si mesmo. “Brasil perde a Copa de 7×1, brasileiro faz piada; parlamento rouba, faz piada; dizem que alguém tentou um golpe, vira meme”, citou Matarazzo.
O autor concordou com essa visão e afirmou que o “brasileiro não se leva a sério e não leva o Brasil a sério”. De acordo com ele, “a gente gosta de fazer piada com a gente mesmo”, e ainda provou sua teoria quando contou uma piada, que levou a plateia a cair na gargalhada: “Criaram uma máquina para identificar ladrão em algumas horas. Ligaram-na nos Estados Unidos e, em uma hora, identificaram 1.500 ladrões; no México, 3.000 bandidos; na China, 5.000. No Brasil, em 05 minutos, roubaram a máquina”.
E ele continuou exemplificando, provando que o brasileiro não se leva a sério: “Nas manifestações de rua, em 2013, por exemplo, com os blackblocs em confronto com a PM, os manifestantes pediam para os policias mandarem bala Halls porque bala de borracha doía demais. E na Copa, com o 7×1, brincavam que nem a Volkswagen fazia tantos gols em 45 minutos”. Figueiredo encerrou dizendo que esse é o maior ativo do Brasil, o próprio brasileiro, que é bem-humorado e vive a vida com leveza, apesar dos percalços. Isso, inclusive, segundo ele, é reconhecido por muitos estrangeiros quando vêm ao País.
“Brasileiro está errado em se declarar feliz? Ninguém pode ser criticado por ser feliz”, finalizou ele concordando com uma colocação de Ana Cotait, que apontou pesquisa sinalizando que a mulher é mais feliz do que os homens. “Mulher é muito melhor do que o homem. Elas são mais sensíveis, solidárias e agregadoras. A mulher tem qualidades a mais do que o homem”, ratificou o escritor.
Encerrando o debate, Figueiredo agradeceu a oportunidade, e o presidente Ordine finalizou elogiando-o: “Sabe por que somos felizes? Porque tivemos a oportunidade de tê-lo aqui conosco nesta tarde”. Na sequência, houve venda dos livros com sessão de autógrafos junto a um coquetel.
Participaram também a senhora Dinah Maluf Ordine, esposa do presidente da ACSP; Luiz Carlos Boscolo, esposo da vice-presidente Ivani; Roberto de Macedo, vice-presidente da ACSP; Alexandre Ortiz, assessor da Presidência; Iracema Valadão, coordenadora-geral do CMEC Sede e das 15 Distritais; Arnédio Bastos, superintendente institucional; entre outras lideranças da entidade.