Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, disse que nós não temos que seguir o que os outros querem que nós sigamos.
Ou seja, nós devemos pensar com liberdade, encontrar valores importantes para nós mesmos, descobrir o que nos alegra e fazer o que nos deixa felizes e, com certeza, não fazer ou deixar de fazer alguma coisa porque é “pecado” ou porque alguém quer que nós façamos.
Na verdade, o que fazemos ou não fazemos aumenta ou diminui nossa vontade de poder ou vontade de potência e como disse Baruch Spinoza (1632-1677), filósofo holandês, “a nossa potência de agir que é nosso elã vital.”
Existe uma força interior em cada um de nós e isso faz com que, às vezes, estejamos mais tristes, portanto, quando isso acontece, a nossa potência de agir está menor.
Nós precisamos dessa vontade de potência, por isso, temos que fazer de tudo para sempre aumentar essa potência de agir.
Lamentavelmente, a sociedade é o oposto, isto é, ela quer reduzir a nossa potência de agir.
Ou seja, a sociedade deseja que tenhamos um comportamento predeterminado e isso não acontece somente com a sociedade contemporânea, mas aconteceu praticamente em todos os tempos da história da humanidade.
Sempre existiu, segundo Paul-Michel Foucault (1926-1984), filósofo, escritor e historiador francês, uma ideia de normalidade e quem fugisse dessa “normalidade” era visto como marginal.
Ou seja, a sociedade iria marginalizá-lo e, portanto, colocá-lo fora do grupo social. São os chamados “indesejados”.
Obviamente, a sociedade historicamente tem vários “indesejados”!
São os mendigos, as prostitutas, antigamente, as pessoas portadoras de hanseníase (lepra).
Enfim, foram vários os “indesejados” ao longo da história da humanidade.
Porém, as mulheres foram uma das vítimas da ideia de normalidade na sociedade.
Pessoas que não se enquadravam especialmente mulheres, dentro de um padrão de normalidade, sofreram física e psicologicamente ao longo da história.
Essas mulheres, na Santa Inquisição, foram torturadas e chegaram ao ápice de serem queimadas vivas, muitas acusadas de heresia, de serem bruxas, simplesmente, porque não se adaptavam a um padrão que o Estado junto com a Igreja entendia como sendo o padrão a ser seguido de normalidade.
Afinal, ser normal é ser e pensar como a grande maioria?
É se enquadrar em tudo que a sociedade, o Estado, a religião e a família querem? Será que isso seria ser normal?
Foucault estuda esse assunto de forma magistral!
Ele escreveu várias obras magníficas, mas há duas que apesar de serem questões distintas, elas têm em comum a ideia de normalidade, ou seja, “História da sexualidade” e “História da Loucura”.
Temos dificuldade em aceitar o outro, isto é, o outro que é diferente de nós e não é “normal”.
Vivemos uma tendência conservadora que é bastante interessante, isto é, os liberais, historicamente, referindo-se à França e à Inglaterra, eram pessoas que não queriam que o Estado se intrometesse na vida privada. Portanto, o Estado não deveria se intrometer na vida particular e no trabalho.
Até porque tinha a “mão invisível” do mercado como disse Adam Smith (1723-1790), filósofo e economista escocês. Mão invisível é um conceito que inicialmente foi introduzido por Adam Smith em seu livro “Teoria dos Sentimentos Morais”, escrito em 1759, invocando a interferência natural que o mercado exerceria na economia.
Muitos conservadores no Brasil querem a intervenção do Estado, querem o Estado intervindo para determinar como se deve agir em termos de educação, família, bons costumes, moral e cívica.
É esquisito ser liberal na economia, mas conservador intervencionista em relação ao Estado.
O que seria normal ao longo da história?
O nosso padrão de normalidade varia de acordo com os acontecimentos históricos, mas sempre com uma ideia de dominação de uma classe superior, ou melhor, considerada superior, em relação às outras classes, consideradas inferiores.
Foucault denuncia que sexo e corpo foram usados como forma de dominação do Estado ao longo da história.
É importante ressaltar que Foucault é um dos responsáveis pelo fim ou diminuição, pelo menos, dos “manicômios” no mundo inteiro, inclusive, no Brasil.
Foucault discutia essa questão muito, justamente para combater essa ideia de normalidade.
Com certeza, quem se enquadra no padrão de normalidade da sociedade, ou seja, pensa que a sociedade é absolutamente normal, é quem tem problema.
Uma sociedade “doente” como a nossa na humanidade que aceita, por exemplo, que uma criança pegue comida no lixo ao lado de um grande mercado, repleto de alimentos, é uma sociedade que cultiva um padrão de normalidade patológico.
Essa forma de ser capitalista está, na verdade, nos levando ao grande colapso centrado no consumo de massa, isto é, colapso da nossa civilização e ainda teremos sérias consequências danosas para a humanidade.
Enfim, o que aceitamos como normal, muitas vezes, é um absurdo!
Portanto, rever esses nossos conceitos, essa ideia de normalidade é o convite que a filosofia de Foucault nos inspira a fazer.
E não devemos nos esquecer da influência do filósofo Nietzsche nessa questão da normalidade de quem Foucault é um dos seus principais herdeiros.
Afinal, o que é ser normal?
“Em todos os lados, a loucura fascina o homem.”
Paul-Michel Foucault (1926-1984), filósofo, escritor e historiador francês.