Desde 12 de junho, a cidade de São Paulo enfrenta uma onda de vandalismo contra o transporte coletivo que não pode ser tratada como mero ato isolado de audácia juvenil, mas sim como grave atentado ao direito constitucional de ir e vir. Quase 500 ônibus na capital sofreram ataques a pedradas e depredações. Esses números não são estatística impessoal, mas reflexo de famílias apreensivas, trabalhadores ameaçados e usuários que enxergam sua rotina de deslocamento transformada em risco permanente.
A resposta inicial das autoridades, com a prisão em flagrante do oitavo suspeito demonstra empenho, porém ainda carece de escala e profundidade investigativa. Enquanto a Polícia Civil busca quebrar o sigilo telefônico dos detidos para entender motivações, a sensação de impunidade persiste nas vias e terminais.
Paralelamente, a Polícia Militar deflagrou a “Operação Impacto Proteção a Coletivos”, mobilizando 7,8 mil policiais e 3,6 mil viaturas em corredores, garagens e terminais até o fim de julho . A iniciativa, embora necessária, não pode se limitar a patrulhamento ostensivo eventual: precisa incorporar inteligência criminal, mapeamento de rotas de ataque e integração permanente com a investigação civil e as empresas de transporte. O uso de drones, câmeras com leitura de placas e a presença de roteiros camuflados em horários críticos podem elevar a capacidade de prevenção, sinalizando que nem um único pingue de pedra passará despercebido.
Os ataques colocam em risco a vida de passageiros, muitos dos quais vulneráveis, como pessoas com deficiência, que já tiveram vans especiais atingidas. A normalização dessa barbárie corrói a confiança no sistema de transporte e agrava o caos urbano, obrigando o poder público a desviar recursos para reparos emergenciais em vez de investimentos em expansão e qualidade do serviço. É papel do Estado garantir a segurança de todos.
Mais do que repressão, faz-se necessária estratégia de longo prazo: programas educativos nas periferias para desestimular desafios de internet e apologia ao crime, cooperação com escolas e famílias para identificar jovens em risco de virar autor ou vítima, e monitoramento de redes sociais para antecipar movimentos de ataque. A segurança pública é construção diária e coletiva; exige diligência policial, articulação entre esferas de governo e participação ativa da sociedade civil.
Em São Paulo, a inércia não é opção. Cada pedra lançada contra um ônibus ecoa como ameaça direta ao direito fundamental de ir e vir. Cabe às polícias Civil e Militar, em sinergia com o Judiciário e o Executivo, coibir com rigor esses ataques, punir exemplarmente os responsáveis e restabelecer a paz nos corredores que sustentam a vida urbana. Somente assim poderemos garantir que o transporte coletivo retome seu papel de vetor de mobilidade e inclusão social, livre de pedras, medo e insegurança.