“Me contaram por aí, mas não me lembro onde, que certas pessoas e empresas descoladas estão se vestindo de socialmente responsáveis para criar um bom e rentável negócio. Mas também fiquei sabendo que, se o projeto não vier com um PIX bonito e generoso, a responsabilidade fica sem pressa. Sendo melhor até deixar para depois”.
Sim, esse texto começa com uma fofoca, afinal, informação é poder.
Mas não precisa se preocupar, ela não foi direcionada a ninguém. Essa introdução é meramente ilustrativa.
Vamos concordar: fofoca é informação favorecida, por diversas vezes adulterada, mas sempre privilegiada.
De acordo com o antropólogo Robin Dunbar, a fofoca tem suas raízes na pré-história. Utilizada para preservar a sobrevivência da espécie, segundo “Robin(ho)” a prática de “fofocar” pode ter sido uma forma de “cuidar” das relações sociais em grupos primitivos, funcionando como uma ferramenta essencial para a comunicação e o controle social em comunidades onde a comunicação direta nem sempre era possível.
De modo que tudo melhora com o tempo, quando avançamos para a antiguidade assistimos a fofoca tomar tons de intrigas e rumores, ocupando espaços em centros de convivência, textos filosóficos, espaços de poder e, claro, na política. São nas antigas civilizações, como Grécia e Roma, que vimos as histórias de bastidores, o “ti ti ti” e o “disse me disse” sendo usado como estratégia para influenciar a opinião pública.
Como ‘quem conta um conto, aumenta um ponto’, dizem que enquanto na Idade Média a fofoca tinha um papel moralizador, na Moderna – com a chegada da Imprensa – a fofoca virou tabloide (!!!), e o que antes “corria na boca miúda”, agora tem profissional envolvido e editoria no jornal.
Ah, concorde comigo novamente: gostar de fofoca não é demérito, é somente gostar de estar informado(a) antecipadamente sobre o que acontece na vida do(s) outro(s), como forma de construir uma opinião crítica para ter no que pensar e sentir um pouco de prazer em comentar nos bastidores.
Não concorda? Tudo bem, mas quem sou eu para julgar?!
Acontece que as coisas também podem ter nuances diferentes. Com o avanço da Era Digital, a fofoca ganhou uma velocidade absurda, se espalhando em segundos para uma massa de pessoas ávidas em (1) propagar, (2) julgar/opinar, (3) validar como verdade absoluta e (…) acabou. Não se pensa sobre o assunto e tampouco existem reflexões antecipadas. Na era da velocidade você tem que agir rápido, pensar (?) pra quê?
Enquanto para a psicologia a fofoca ocupa uma função adaptativa de comunicação indireta, para profissionais treinados ela pode ser usada como um meio de manipulação, distorcendo fatos, criando cenários, espalhando inverdades e alastrando maldades. A disseminação da informação em bocas mal-intencionadas, ou manipuladoras, tem construído um cenário de incertezas, adoecimento, cancelamentos, haters, distorções, frustrações e distúrbios psicológicos.
Para que evitemos mal-entendidos, injustiças e danos pessoais ou profissionais, precisamos averiguar as informações, questionar as verdades, ter cuidado com os efeitos das opiniões, pesquisar origens e ser/estar responsável sobre o que transmite. Esse é o mínimo para que algo tão nobre não gere desinformação, danos irreparáveis, conflitos e tensões, aumento de doenças mentais e quebra de regras ético-sociais.
Mas assim, essa é a minha opinião, tá?
(Ei, Psiu! Agora eu, que amo uma fofoca, fico incomodado sobre o que fizeram com a nossa “rádio peão”. Vivo obrigado a ter que pesquisar se tudo aquilo que vejo, leio e ouço é verdade ou é um fruto de mais uma imaginação danificada.)