Todo mês de março, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher, somos levadas a refletir sobre conquistas, avanços e desafios que ainda precisam ser enfrentados para termos um mundo com mais equidade de gênero, menos atitudes machistas e misóginas. Neste ano, durante palestra promovida pelo Instituto Human, tive que reconhecer que a batalha ainda está longe de ser vencida e que precisaremos de aliados comprometidos para catalisar as mudanças significativas que tanto almejamos.
Para entender o motivo dos aliados serem fundamentais na luta feminina, é necessário analisar as estruturas de poder e os privilégios que sustentam a desigualdade de gênero. Relatório de 2023 do Fórum Econômico Mundial (FEM) estima que as mulheres não atingirão a paridade com os homens por mais 131 anos, ou seja, não antes de 2154.
O Índice de Diferença de Gênero do FEM mede a paridade de gênero em 146 países e em quatro áreas: participação e oportunidade econômica, realização educacional, saúde e sobrevivência e empoderamento político. Desde que o índice foi lançado, em 2006, a paridade geral melhorou apenas 4,1 pontos. O Brasil ocupa a posição de número 57 no ranking.
Enquanto existir discriminação no local de trabalho, violência de gênero (em média, quatro mulheres são mortas por dia no Brasil, vítimas de feminicídio), diferenças salariais e outras injustiças é imperativo que pessoas de todos os gêneros se posicionem e tomem partido da causa feminina.
As mulheres ganham menos, estão em menor número em posições de chefia ou em cargos eletivos, trabalham mais no ambiente doméstico, além de realizarem mais trabalho não remunerado, como o cuidado com os parentes mais idosos, por exemplo. Em muitos espaços, elas ainda são silenciadas, ignoradas ou diminuídas.
Bons aliados acabam desempenhando um papel importante por conseguirem ampliar as vozes femininas, emprestando seu privilégio para garantir que elas sejam ouvidas e respeitadas. Ao reconhecerem suas ideias, eles fornecem crédito e contribuições preciosas às mulheres, fazendo com que elas ampliem o campo de possibilidades e possam se destacar em suas áreas de atuação.
O comprometimento a longo prazo desses aliados é essencial e resultará numa reeducação social e cultural da sociedade, que por muitos séculos promoveu a desigualdade de papeis entre homens e mulheres, impondo uma série de restrições ao feminino com justificativas biológicas descabidas e claramente sexistas.
Temos que derrubar velhas teorias que continuam ecoando, como a ideia de que nós mulheres seríamos menos lógicas por natureza ou que nossos hormônios influenciam nossas decisões. Não há comprovação científica de diferenças estruturais dentro do cérebro feminino em comparação ao masculino.
Aliás, muito pelo contrário. No cenário educacional brasileiro, o protagonismo feminino é evidente, com 60,3% das pessoas que concluíram cursos de graduação em 2022 sendo mulheres, segundo dados do IBGE. Além disso, a população feminina que possui ensino superior completo aumentou de 14% para 21,3% nos últimos 10 anos, crescimento maior do que entre os homens, que passaram de 11% em 2012 para 16,8% em 2022.
A redução da distância entre os gêneros é urgente e precisa ser entendida como uma questão não somente das mulheres, mas também dos homens, empresas, governos e instituições. Somente com a construção de uma aliança forte e inclusiva conseguiremos pavimentar o caminho para acelerar o progresso em direção à paridade de gênero e criar um futuro mais justo e equitativo, onde todas as pessoas, independentemente do gênero, possam prosperar e alcançar seu pleno potencial.
*Sthefany da Silva Bernal é analista de Cultura e Engajamento na Roost, empresa de tecnologia especializada em soluções de edge computing.