Ao observar o reflexo do que enfrentamos na vida, frequentemente me pego rezando, não apenas por justiça divina, mas por um mundo onde a bondade tenha mais espaço para florescer do que a maldade. Como entender que aqueles de caráter duvidoso, muitas vezes, prosperam enquanto os virtuosos enfrentam dificuldades inimagináveis?
Essa angústia não é nova. Lemos no Velho Testamento a mesma reclamação feita ao Senhor:
“Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveita termos guardado os seus preceitos, e andarmos pesarosos diante do Senhor dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por bem-aventurados os soberbos; também os que cometem impiedade se edificam; também tentam a Deus, e escapam. Então aqueles que temem ao Senhor falam um com o outro;” (Malaquias 3:14-16).
De fato, não nos faltam exemplos de pessoas más que parecem prosperar enquanto tantas pessoas boas enfrentam dificuldades. Tantas pessoas de bem, que vivem com integridade e valores, encontram-se sem alternativas e dignidade. A ética, como bem dizia Immanuel Kant, é a essência do dever e da moralidade, mas hoje parece relegada a um segundo plano, enquanto a corrupção e a falta de escrúpulos dominam. Vemos o triunfo daqueles que, nas palavras de Hannah Arendt, representam a “banalidade do mal” – pessoas capazes de agir sem remorso, movidas apenas por interesses próprios e desprezo pelo próximo.
E, nessa balança tão frágil, homens e mulheres de moral, decência e virtude se veem à beira da indigência, mendigando por algo tão básico quanto comida e abrigo. Como explicar tanta humilhação? Onde está o sentido de um mundo que parece punir a retidão e recompensar a pilantragem?
Talvez, como sugeriu Martin Luther King Jr., “a verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio”. Estamos, sem dúvida, vivendo tempos de desafio extremo, onde muitos são postos à prova, não apenas em sua resistência física, mas na fé que têm em um futuro mais justo.
Ainda assim, acredito profundamente no poder do grande ciclo da vida. A ordem natural das coisas jamais permitirá que o mal vença de forma definitiva. Afinal, que sentido teria a vida se o mal fosse a força dominante? Não, o bem sempre prevalecerá, porque ele é a base de tudo o que dá significado à existência humana.
Por mais que enfrentemos a escuridão, a luz encontra sempre um jeito de se erguer. Cabe a nós sermos parte dessa luz, acreditar no poder transformador da bondade e na certeza de que, no final, o mal jamais triunfará.
Walter Ciglioni