Foi na década de 70, não sei bem o ano. Tive que me submeter a uma cirurgia e “peguei” uma bela infecção hospitalar. Foram 21 dias de hospital, eu não comia, estava cada vez mais fraca, exames apontaram bactérias desconhecidas, antibióticos não faziam efeito.
Meu pai, médico, ia me ver duas vezes por dia e também começava a desanimar. Um dia me perguntou:
- O que você tem vontade de comer, minha filha?
Respondi, candidamente: - Camarões fritos e vinho verde branco, geladinho.
- Trago pra você mais tarde, ele respondeu.
Horas depois me apareceu no hospital com um fumegante prato de camarões e uma garrafa de vinho verde, branco, já muito gelado. - Esse vinho vai acabar com a essa infecção! sentenciou e, prudentemente, transferiu-o para uma garrafa térmica, guardando-a no armário, não fosse o cirurgião que me operou, o Aristóteles Mossa, descobrir o vinho e se escandalizar.
Dois dias depois eu estava sem febre e o corte com jeito de estar cicatrizando.
Lembrei disso hoje, quando abri gavetas e comecei a ler alguns artigos de meu pai e recortes de jornais que ele guardava sobre vinho: seus poderes curativos – inclusive como antibiótico – suas qualidades nutritivas, seus benefícios para a saúde. Entre os recortes estava uma história que o ouvi contar várias vezes: dois coveiros, um velho e um jovem, conversavam à beira de um túmulo e o velho resolve ensinar algo ao jovem. Mostra-lhe um fêmur de defunto, bate com ele na borda do túmulo e o osso se esfacela. “O dono deste osso não tomava vinho”, diz. Pega outro osso, bate com ele no túmulo, o osso aguenta e se mantem intacto, o velho coveiro sentencia: “Este tomava vinho todos os dias”.
Meu pai, o velho médico que na juventude e já com uma boa clínica pe