O relatório de mais de 800 páginas da Polícia Federal é muito claro: o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou de “forma direta e efetiva” nos atos executórios para tentar um golpe de Estado em 2022. Não à toa, ele foi indiciado ao lado de mais 36 comparsas, todos acusados por golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes.
A partir da robusta investigação feita pela PF, são enormes as chances de Bolsonaro ser preso. Os agentes da Polícia Federal escreveram que “os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro” tinha conhecimento sobre o planejamento das ações para atentar contra a democracia brasileira. Ainda de acordo com os investigadores, Bolsonaro tinha conhecimento também do plano elaborado para sequestro e assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
As provas que pesam contra Bolsonaro são muitas, como os registros de entrada e saída de visitantes do Palácio do Alvorada, conteúdo de diálogos entre interlocutores de seu núcleo próximo e análise de datas e locais de reuniões. O golpe de Estado só não ocorreu porque o alto comando da Aeronáutica e do Exército não aderiu ao movimento golpista.
O então comandante da Marinha do Brasil, almirante Almir Garnier, foi o único dentre os três a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito. Ele teria até colocado as tropas à disposição do então presidente Bolsonaro, com tanques prontos para ir às ruas. Garnier, agora, é outro que corre sério risco de ser preso.
Outro que dificilmente escapará da cadeia é o general da reserva Walter Braga Netto. Ele não só teve participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do Estado Democrático de Direito, como tentou obstruir a investigação.
Braga Netto concorreu nas eleições presidenciais de 2022 como vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro. Também foi ministro-chefe da Casa Civil, de 2020 a 2021, e ministro da Defesa, de 2021 a 2022. Era um aliado de primeira-hora de Bolsonaro.
Como o plano de matar Lula não deu certo, ainda segundo a PF, o ex-presidente Bolsonaro fugiu do Brasil no final de 2022 para evitar eventual prisão e aguardar nos Estados Unidos o desfecho dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A história mostrou que nada do que Bolsonaro e a sua trupe planejaram deu certo. Pior: ele deve acabar na cadeia.
A Justiça tem de ser implacável com todos aqueles que tramaram para abolir o Estado Democrático de Direito. O povo brasileiro reconquistou a Democracia a um custo muito alto. Vários brasileiros foram torturados e mortos durante o terror da Ditadura Militar. São pessoas que deram a sua vida e, de alguma forma, contribuíram para que a Democracia fosse restabelecida no País. Por isso, a pena para quem tentar tirar esse direito do povo não pode ser outra além da cadeia.
Mauro Ramos é jornalista