Desde o seu primeiro mandato como presidente dos EUA, Donald Trump é conhecido por adotar uma postura pautada no protecionismo econômico americano, defendendo a hipótese de que este seria o caminho mais eficiente para lidar com o crescimento chinês. Agora, com o retorno do empresário à Casa Branca após uma significativa vitória eleitoral em 2024, em um mundo marcado por uma China ainda mais forte do que era durante seu primeiro mandato, a administração Trump promete colocar em xeque o neoliberalismo econômico e o status-quo do Comércio Internacional ao trazer uma política econômica ainda mais incisiva em seu protecionismo nacionalista, fenômeno que já está começando a ser observado.
Nos últimos dias, observamos a primeira grande ação da Casa Branca de Trump neste sentido, com a confirmação de tarifas de 25% para produtos canadenses e mexicanos e 10% para produtos chineses. Tal confirmação se faz ainda mais impactante quando consideramos o fato de que Canadá e México possuem parceria comercial histórica com os Estados Unidos e terão seu bloco econômico regional – o NAFTA – profundamente afetado pelo protecionismo americano. Já a China, por sua vez, é o país que possui o maior número de importações para os EUA, o que faz com que as tarifas também mudem significativamente as dinâmicas econômicas em ambos os países.
Em resposta, a comunidade internacional começou a reagir: a presidente do México, embora sem detalhar ações, afirmou categoricamente que o México irá tomar medidas em defesa de seus interesses, tentando medidas diplomáticas para reverter a situação, obtendo êxito em convencer os EUA a suspender as tarifas contra o país por um mês . A China e o Canadá, por sua vez, foram mais incisivos. Pequim levou o caso das tarifas americanas à Organização Mundial do Comércio, trazendo a disputa para o âmbito do Direito Internacional e acirrando a potencial Guerra Comercial com os EUA a depender do resultado. Já a resposta canadense demonstrou com um simbolismo ainda maior a volta do nacionalismo e do protecionismo oriunda do retorno de Donald Trump à Casa Branca. Isso porque o Canadá não apenas anunciou que irá retaliar as tarifas, tomando 25% de 155 bilhões de dólares em produtos importados dos EUA, mas também adotou, por parte da figura do primeiro-ministro, um discurso protecionista de “valorizar o nacional”, incentivando os canadenses a comprarem produtos locais e não internacionais.
Fato é que, com o novo protecionismo americano, cabe aos países se adaptar à uma nova realidade na qual os EUA não se colocam como farol e defensor de um Comércio Internacional livre, ao qual estes podem tentar reagir de duas formas: como a China, que tenta reverter a situação e argumentar que guerras comerciais e protecionismo econômico não levam à lugar algum, assim se colocando contra este fenômeno de mudança promovido pela gestão Trump, ou como o Canadá, que responde de forma igualmente incisiva, assumindo uma postura protecionista e abraçando a nova tendência.
De qualquer forma, é nítido que mudanças drásticas ocorrerão no Cenário Internacional por conta dessa ascensão de um protecionismo nacionalista. A mais óbvia e natural delas é o aumento de preço, ocasionado por conta de uma taxação maior de produtos internacionais e, em casos mais graves onde a importação é cortada ou diminuída, a menor oferta de produtos, que caracterizaria uma competição menor. A diminuição do Comércio Internacional livre também pode significar uma diminuição no fluxo cultural pelo mundo, uma vez que produtos e marcas cruciais para espalhar uma cultura homogênea podem ser substituídos por concorrentes locais e nacionais. Para além disso, a falta de integração econômica pode resultar em uma diminuição significativa nos incentivos para a paz, bem como na estabilidade política mundial, que é, em boa parte, sustentada pelo pilar econômico.
Com isso exposto, é lógico deduzir que os próximos quatro anos do mundo com Trump sob o comando da Casa Branca serão palco de inúmeras mudanças no cenário econômico mundial, restando a seguinte reflexão: será Trump, sozinho, capaz de renovar toda a política econômica americana, consolidar a queda do neoliberalismo e dar início à tão temida – e provável – guerra comercial?