Partindo para o tudo ou nada, Donald Trump vai aos poucos retirando os Estados Unidos dos organismos multilaterais do mundo.
Depois de anunciar a saída da OMS, ele reduzirá fortemente o financiamento da ONU.O argumento de que está evitando a “gastança do dinheiro público” é o mesmo de ação semelhante que praticamente dizimou a USAID, a tradicional agência de ajuda humanitária e social norte-americana.
Trump tem horror a tudo o que não lhe agrada. E a paz mundial o agrada muito pouco. Prefere o agito, mesmo que isso provoque guerras e mais confusões diplomáticas. Ao cortar parte significativa do orçamento dos Estados Unidos para um mecanismo fundamental para a estabilidade mundial como é a ONU, o presidente norte-americano pode estar dando um tiro no próprio pé.
A Organização das Nações Unidas, herdeira da Liga das Nações, ao contrário do que Trump diz, não é uma máquina de gastar dinheiro. A instituição serve para muita coisa, especialmente para intervir em situações que coloquem o mundo em risco. Entram nessa conta as catástrofes naturais, os deslocamentos forçados e os conflitos. É certo que a sua influência tem sido cada vez mais contestada e suas ações têm tido pouco efeito. Mas, é o velho ditado: ruim com ela, pior sem ela.
Deixar de apoiar um instrumento tão fundamental para a estabilidade internacional significa apostar no imprevisível, no exato momento que o mundo mais precisa encontrar soluções duradouras e sustentáveis diante, por exemplo, de um desafio climático inédito. Acreditar, como Trump o faz, que o único interessado em sobreviver no planeta são os Estados Unidos é de uma miopia avassaladora. Uma maldade nunca vista antes na história pelo fato de que poderá levar à extinção de tudo e de todos.
E é exatamente nesse momento de desembarque unilateral do coletivo humano que Donald Trump pode queimar seu arsenal. Não existe vácuo na política. Para a China ocupar o lugar dos Estados Unidos é um pulo. O gigante asiático disputa com Washington a liderança da inteligência artificial, é o maior exportador de aço do mundo, está construindo o projeto Cinturão e Rota que vai mudar a cara do comércio internacional e, ainda por cima, vem modernizando suas forças armadas, com destaque para a Marinha e Aeronáutica.
Portanto, o passo de elefante de Trump numa sala de cristais trará um custo que pode ser irrecuperável para uma nação que se acostumou a ditar as regras da humanidade. Se bem é certo que a guerra fria ficou para trás com a indiscutível vitória norte-americana, o mesmo não se pode dizer do que virá pela frente quando a até então maior potência do mundo acaba de optar pelo isolamento. A histórica paciência chinesa está rindo à toa