Vivemos em tempos em que a loucura e o desequilíbrio emocional viraram moda. O sofrimento psíquico tem sido romantizado, como se bastasse maquiá-lo com doçura para que ele pareça normal. A moda do bebê reborn escancara isso: pessoas doentes, emocionalmente feridas, tentando preencher vazios profundos com bonecos. E o mais alarmante? Já tem gente questionando até a guarda legal de um objeto inanimado. A que ponto chegamos?
Será que não estão se dando conta de que aquilo que chamam de modernidade é, na verdade, só uma forma desesperada de chamar atenção? Um grito silencioso por validação, por afeto, por pertencimento. Enquanto isso, os únicos que realmente estão felizes são os fabricantes desses bonecos que vão ganhar muito dinheiro às custas do desequilíbrio emocional de uma geração.
E para piorar, programas de TV estão abrindo espaço para essa loucura, como se fosse algo bonito, fofo ou revolucionário. Mas por que não abrem espaço para falar de saúde mental com seriedade? Por que não trazem à tona a luta contra o suicídio, a depressão, a ansiedade, os traumas e as feridas reais que estão adoecendo silenciosamente milhões de pessoas? Falar da dor virou tabu. Fantasiá-la, virou entretenimento.
Estamos tratando um boneco como filho, levando-o a consultas médicas, estacionando em vagas de gestantes “à espera da chegada do boneco” e exigindo respeito por isso. O mais vergonhoso? Os meios de comunicação dão palco, validam, romantizam e alimentam esse desequilíbrio como se fosse um avanço social. Todos os meios de comunicação estão divulgando essa loucura toda, esse desequilíbrio insano, como se fosse algo admirável, quando na verdade é um reflexo claro de uma sociedade adoecida emocionalmente. Enquanto isso, continuam ignorando as verdadeiras pautas urgentes da saúde mental, como prevenção ao suicídio, acolhimento de traumas, e tratamento da ansiedade e depressão.
E mais uma vez, a sociedade hipócrita dá abertura e se cala diante da loucura alheia. Dizem: “Fulano melhorou tanto depois que adquiriu o bebê reborn.” Melhorou mesmo… ou apenas criou uma ilusão mais confortável para fugir da realidade? O sintoma foi maquiado, não tratado. A dor foi silenciada, não curada.
Tudo isso vai gerar graves consequências emocionais: dificuldade em lidar com frustrações reais, enfraquecimento dos vínculos humanos, fuga da realidade, perda da autonomia psíquica, transtornos dissociativos e até estados mais graves como depressões resistentes e delírios emocionais. A fantasia repetida como verdade aprisiona o sujeito em um mundo de faz-de-conta, onde não há dor, mas também não há crescimento.
Se essas pessoas quisessem mesmo viver a experiência da maternidade ou paternidade de forma legítima, por que não adotam uma criança de verdade? Por que não oferecem amor, cuidado e lar para uma vida real que precisa disso? Talvez porque o bebê reborn não chora, não adoece, não exige, não frustra. É o “filho ideal” de uma sociedade que não sabe mais lidar com a realidade e prefere controlar tudo até o amor.
Quando um boneco é tratado como filho, com direito a berço, mamadeira, roupinha, passeios, afeto diário e pasme até festa de aniversário, não estamos mais falando de uma brincadeira inocente. Estamos falando de uma dor mal resolvida, de um luto não elaborado, de um trauma empurrado pra debaixo do tapete. É fantasia sendo vivida como realidade. E isso cobra um preço alto.
Até quando vamos achar normal esses desequilíbrios? Os adultos vivem apontando o dedo para os adolescentes e jovens, dizendo que estão perdidos, que não sabem mais viver. Mas me diga: e vocês? Estão vivendo certo ao tratar um boneco como filho? Hahahaha… A famosa hipocrisia. Criticam a geração que chora nas redes sociais, mas colocam um bebê de silicone pra dormir em berço e ainda exigem respeito à fantasia. Quem é que está realmente precisando de ajuda?
Não se trata de julgamento. Trata-se de um alerta urgente: a ilusão pode até anestesiar por um tempo, mas não cura. Gente que cuida de um bebê reborn como se fosse real está, muitas vezes, gritando silenciosamente por ajuda. Estão tentando dar sentido à ausência, à perda, ao amor não vivido. Mas fantasiar um filho perfeito, que não chora, não cresce, não frustra é negar a própria humanidade.
E o mais grave: essa fuga da realidade pode impedir vínculos reais, afastar o sujeito de si e das possibilidades verdadeiras de afeto. A fantasia se torna uma armadilha. Um lugar onde a dor é escondida, mas nunca curada.
Estamos adoecidos emocionalmente e fingindo normalidade. Disfarçamos nossas faltas com bonecos, substituímos o amor por controle e chamamos isso de superação. Não é. É desespero disfarçado de afeto. É urgência de ajuda, travestida de modinha.
Bebê reborn não é filho. É sintoma.
Se a dor é real, a cura precisa ser também.
Porque quem foge da realidade para brincar de família com um boneco… está implorando por socorro e nem sabe