O eleitor brasileiro ainda não se acostumou a pensar na nobreza das eleições. Este é o único caminho para a escolha de bons administradores e a riqueza da soberania do voto. Esta é a essência da democracia. Ela não é apenas o governo da maioria; seu conteúdo é muito mais rico do que isso. Significa a participação do indivíduo que se transforma em cidadão. Representa a participação nas escolhas, não apenas dos governantes, mas também das políticas públicas que serão implantadas. Democracia é participação. É assunção de responsabilidades. É a realização da boa escolha dos dirigentes. É o respeito pelas minorias. É o atendimento às leis. É a inclusão social dos menos favorecidos.
Daí a elevação do voto ao status de instrumento mais precioso para dar destinos nobres aos governos escolhidos. Somente por ele é que podemos transformar a sociedade. Deflagrado o processo eleitoral, escolhem-se os candidatos, que devem passar, em princípio, por uma seleção junto aos partidos políticos. Estes são constituídos de acordo com a legislação em vigor e inserem em seus estatutos as exigências, suas finalidades e a forma de escolha dos candidatos. Em tese, devem aliar-se a alguma ideologia.
Os candidatos recebem, então, um número após aprovação em convenção partidária. A partir daí, saem em campanha, o que significa que devem levar ao eleitor suas propostas e responsabilidades no trato da coisa pública. Devem tornar-se conhecidos e apresentar sua vida pregressa para que os eleitores a examinem. Teoricamente, é assim que as coisas devem se passar.
Olhemos para a realidade para ver como as coisas são por debaixo do pano. Em primeiro lugar, os partidos são dominados por alguns elementos que deles se apossam ou os instituem. A partir daí pode começar uma negociata para “dar a legenda”. Por vezes exige-se recursos (compra e venda de legenda) para sua obtenção.
Dada a legenda, a discussão passa para o tempo de televisão e rádio que cada candidato terá. O que deveria ser uma distribuição equitativa transforma-se em benefício daqueles que provavelmente tenham maior viabilidade eleitoral ou que sejam amigos dos dirigentes partidários. Claro que isso desequilibra a disputa. A distribuição dos recursos igualmente fica na dependência da simpatia com os governantes ou com eventuais vantagens que a eles sejam oferecidas.
Há ideologia que se possa imputar aos partidos políticos? Não creio. A ideologia há muito abandonou as discussões eleitorais. Hoje, é apenas a individualidade do candidato que conta. Sua projeção social, seu pertencimento a determinadas categorias sociais, sua notoriedade, sua classe de origem. Nada mais.
Os eleitores dão atenção à apresentação de projetos ou planos de trabalho? Nenhuma. Aos candidatos a vereador não cabe apresentar projetos, mas sem dúvida devem indicar sobre quais interesses públicos irão se dedicar, como educação, área de saúde, saneamento básico ou transporte. Qual será sua área de trabalho?
Entram em função os denominados cabos eleitorais, que são fundamentais nas eleições. Estes têm contato diuturno com as comunidades corporativas (área de servidores públicos, empregados em grandes companhias) ou sociais, como favelas, bairros e comunidades. Não se pode deixar de dar atenção ao crime organizado, que tem se estruturado para eleger vereadores e prefeitos em todos os Estados.
É extremamente importante que o eleitor analise tudo isso antes de escolher um candidato e dar seu voto. É ele que faz a essência da democracia. Saber escolher bem e auxiliar os demais eleitores em suas opções é fundamental. O descaso, a indiferença, o virar de costas para escolhas e a desconsideração dos fatores mencionados levam as cidades a piorarem cada vez mais. A deterioração dos costumes, o mau trato com a coisa pública e a falta de políticas em áreas essenciais levam ao abandono das cidades. A má escolha de governantes piora a cada dia. Por consequência, sofre a população.
Devemos estar atentos às escolhas. Através delas realizamos a democracia e colaboramos com os municípios para buscarem a melhoria dos serviços e atividades públicas.