Imagine só: o Papa Francisco, cercado por líderes mundiais, cardeais, teólogos e jornalistas, levanta os olhos ao céu e pede… senso de humor. Não uma resposta divina para os problemas do mundo. Não uma cura instantânea. Não a sabedoria dos anjos. Mas senso de humor.
Pode parecer estranho para alguns, mas para quem vive com os pés na realidade — onde o despertador toca antes da hora, o café acaba na metade e a internet cai na reunião mais importante da semana — esse pedido faz todo o sentido.
A oração do bom humor, atribuída a São Tomás Moro e citada várias vezes por Francisco, é um daqueles tesouros espirituais que parecem pequenos, mas que têm o poder de virar a chave da nossa percepção sobre a vida. E é sobre isso que vamos falar neste artigo: como um pouco de riso pode nos aproximar da santidade, da saúde mental… e até de nós mesmos.
A Oração do Bom Humor
Senhor, dai-me uma boa digestão,
Mas também algo para digerir.
Dai-me a saúde do corpo,
Com o bom humor necessário para mantê-la…
(trecho da oração de São Tomás Moro)
Logo no início da oração, São Tomás Moro já nos oferece uma combinação genial: saúde e bom humor. Porque não adianta ter um corpo funcionando perfeitamente se a alma está ranzinza. E quem vive com mau humor constante, pode até estar clinicamente saudável, mas emocionalmente adoecido.
O bom humor, aqui, não é um escudo contra a realidade. É uma lente mais leve para olhar o que, inevitavelmente, precisa ser enfrentado. É como usar um guarda-chuva florido num dia de tempestade: não vai parar a chuva, mas muda completamente o clima.
A graça de rir de si mesmo
A oração segue pedindo uma alma santa, mas não idealizada. Uma alma que saiba “aproveitar tudo o que é bom e puro” e que “não se assuste diante do pecado”. A mensagem é clara: quem é santo não é perfeito — é consciente.
Essa leveza, no fundo, é maturidade emocional com roupa de piada. É quando a gente consegue olhar para nossas falhas com carinho, reconhecer os tropeços e dar risada antes que o ego nos transforme em vítimas do universo.
Se você já conseguiu rir de um mico que passou, de uma gafe no trabalho, de uma escolha duvidosa no passado… parabéns. Você entendeu a oração.
“Senhor, dai-me senso de humor” – e salve meu dia!
Esse é o pedido que o Papa Francisco diz ter repetido há mais de 40 anos. Não por acaso. O senso de humor é um dos sinais mais lindos de saúde emocional e espiritual. É também um dos primeiros que desaparecem quando estamos sobrecarregados ou tomados pela vaidade.
Quem perde a capacidade de rir (principalmente de si mesmo), geralmente está vivendo sob a tirania do “eu”. Do controle. Do “não posso errar”. Do “preciso parecer forte o tempo todo”. E isso… cansa.
Pedir senso de humor é, no fundo, pedir humildade. É se abrir para o inesperado, para o ridículo da vida real, para a beleza que existe em tropeçar — e continuar andando.
Tem gente que acha que ser espiritual é andar sério o tempo todo. Falar pausado. Ser quase um monge flutuante. Mas a verdade é que a leveza pode ser um caminho direto para a profundidade.
O Papa nos lembra que o humor é uma graça. E mais: ele acredita que um cristão sem senso de humor perdeu uma dimensão essencial da fé. Porque fé é também alegria. É esperança com riso. É acreditar que, mesmo quando tudo parece dar errado, ainda podemos reagir com amor — e uma boa gargalhada.
O humor que cura
A ciência comprova o que a sabedoria espiritual já sabia há séculos: o riso faz bem. Reduz o estresse, fortalece o sistema imunológico, melhora o humor, aumenta a criatividade. E mais: aproxima as pessoas.
Quem ri junto, se encontra. Quem compartilha um sorriso, se humaniza. O bom humor tem esse poder: nos lembrar que somos todos um pouco ridículos, frágeis, engraçados — e profundamente conectados.
E isso, minha amiga, meu amigo, também é oração.
Que tal transformar essa oração em um mantra diário? Você pode começar o dia pedindo:
- Senhor, dai-me uma boa digestão (e um bom café).
- Dai-me saúde… e paciência com o trânsito.
- Dai-me uma alma que saiba rir quando o plano não sair como o esperado.
- Dai-me, Senhor, senso de humor (especialmente nas reuniões de condomínio).
Brincadeiras à parte, incorporar essa leveza no cotidiano é um exercício espiritual. Um jeito de caminhar pela vida com menos peso, menos drama, mais graça (em todos os sentidos da palavra).
São Tomás Moro escreveu essa oração há séculos. Mas ela parece ter sido feita hoje, para você e para mim. Num mundo que exige sucesso, perfeição e pressa o tempo todo, pedir bom humor é um ato de resistência.
É dizer: “Eu sei que a vida nem sempre vai colaborar. Mas eu escolho rir mesmo assim. Eu escolho não endurecer. Eu escolho manter a alma leve”.
E isso, talvez, seja um dos maiores milagres que podemos pedir — e viver.
O Papa Francisco foi amado por muitos justamente por isso: ele mostra que ser cristão não é viver com cara de sexta-feira da paixão o tempo todo. Que a santidade pode — e deve — ter riso. Que uma alma leve é uma alma livre.
Então, que tal incluir essa oração na sua rotina? Escrevê-la num post-it, no espelho, no celular. Rezar com palavras… e com atitudes. E, acima de tudo, permitir-se viver com a leveza que essa oração inspira.
E se o milagre que você tanto espera começar com uma boa risada?