O dia 17 de novembro é o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata e, 2003, marca a origem do movimento Novembro Azul que hoje, em muitos países, é usado para chamar a atenção de todos para a necessidade do diagnóstico precoce deste câncer que atinge os homens na segunda metade da vida. No Brasil são estimados para este ano perto de 70 mil novos casos, número ainda mais expressivo se levarmos em conta que este é o segundo câncer que mais mata homens no país. A estimativa é que teremos 16 mil mortes até o final do ano ou que a cada 34 minutos, morra um homem com câncer de próstata no Brasil.
No mundo a incidência do câncer de próstata deve dobrar até 2040, saltando dos atuais 1,4 milhão de casos, em 2020, para perto de 3 milhões de novos casos, em 2040, segundo estudos publicados recentemente na conceituada revista The Lancet.
Esta “ epidemia” não resulta e nem pode ser imputada a nenhum fator causal ou mudança de hábitos da população masculina e está diretamente relacionada ao maior envelhecimento da população, em decorrência da melhor condição sanitária e de cuidados médicos oferecidos à população. Mantidas as condições atuais, a expectativa de vida da população masculina no Brasil que é de 73,1 anos passará para 79,7anos em 2040. Dados do censo de 2022 mostra que a população brasileira acima de 60 anos, em 2010, era de 20,6(10,6%) milhões de pessoas e, em 2022, passou para 32,1 (15,6%) milhões de pessoas.
Como sabemos, a incidência de câncer do colo do útero em mulheres pode cair drasticamente e chegar próximo do seu total desaparecimento com a vacinação contra o HPV, em adolescentes de ambos os sexos e em mulheres adultas ainda não vacinadas, como mostram estudos publicados em revistas de reconhecido valor científico.Da mesma forma observamos a redução dramática da incidência do Câncer de Pulmão entre os não fumantes e naqueles que deixaram de fumar há mais de 20 anos. O mesmo vale para a mudança de hábitos alimentares e ingestão de álcool para tipos específicos de cânceres do aparelho digestivo.
Diferentemente destas situações, no caso do câncer de próstata, embora estudos demonstrem que hábitos saudáveis de vida possam reduzir de forma leve sua incidência, pouco podemos fazer além de um diagnóstico precoce do câncer.
Foi por esta razão que em 1997, como deputado estadual, consegui aprovar na Assembleia Legislativa de São Paulo a primeira Lei específica para a saúde masculina no país, garantindo aos homens em São Paulo, de forma gratuita, os exames para o diagnóstico do câncer de próstata. A medida foi reproduzida em outros estados e estimulou o Ministério da Saúde a adotar esta conduta em todo o país. A regulamentação da Lei em São Paulo teve a participação direta da Secção Paulista da Sociedade Brasileira de Urologia.
Não tenho dúvidas de que esta medida e a incorporação do movimento Novembro Azul foram fundamentais para que tivéssemos no país um nível maior de esclarecimento da população em geral e dos governos de forma especial. Preocupa-nos, contudo, saber que no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 47% dos homens com idades entre 40 e 70 anos jamais realizaram um toque retal. É possível que o preconceito tenha um papel importante na gênese destes números, mas não consigo excluir a desinformação e desinteresse de médicos e governos para a reversão desta situação.
Os médicos de maneira geral e os urologistas em especial sabem que a dosagem do PSA tem importante valor preditivo no diagnóstico do câncer da próstata, mas não desconhecem também que sua dosagem não exclui ou substitui o toque retal, fundamental para aqueles casos em que o câncer prostático evolui, na sua fase inicial, sem alteração substantiva dos níveis do PSA.
A ênfase que damos ao diagnóstico precoce decorre do fato de que, sem condições de prevenir, torna-se imperativo o diagnóstico precoce que, graças as novas técnicas cirúrgicas e avanços na terapia, garantem a cura em praticamente 100% dos casos diagnosticados nesta fase da doença. Melhor ainda é que, pelas mesmas razões, a cura do câncer se dá sem ou com menores sequelas para os pacientes.
Não temos dúvidas que novos estudos, tecnologias e a IA poderão nos ajudar muito no enfrentamento futuro desta patologia, mas, com o que já temos, é inaceitável conviver com os números vergonhosos que constatamos hoje em nosso país. Reverter este quadro e reduzir os danos e mortes causadas pelo câncer de próstata no Brasil é um desafio inadiável a ser enfrentado por médicos e nossas autoridades de saúde.