O ano de 2024 com certeza não foi fácil para o setor agrícola. A combinação de crises hídricas e oscilações climáticas severas revelou as fragilidades da cadeia produtiva até o abastecimento e trouxe à tona a necessidade de inovação. Mas, ao mesmo tempo, foi um ano que nos ensinou lições sobre resiliência, sustentabilidade e eficiência que precisam ser colocadas em prática em 2025.
A crise de abastecimento, que atingiu hortaliças como a rúcula e a alface-crespa, expôs os efeitos de uma produção sensível às intempéries. Uma caixa de alface crespa que custava R$ 12 no final de outubro, na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), chegou a ser vendida por R$ 40 no final de novembro, um aumento de mais de 230%. Por trás da escassez do produto, o que essa alta reflete é a dependência dos produtores de um clima cada vez mais imprevisível.
O Relatório da Comissão Global sobre Economia da Água (GCEW) reforça a gravidade da situação: até 2050, mais da metade da produção mundial de alimentos será afetada pela crise hídrica. Para países como o Brasil, onde a agricultura é essencial para a economia e o abastecimento interno, essas projeções exigem uma resposta imediata.
Na Verdureira, enfrentamos essa crise com o cultivo protegido e a hidroponia. Essas tecnologias nos permitem reduzir a dependência do clima e garantir o abastecimento de mais de 380 estabelecimentos em São Paulo, mesmo nos períodos mais críticos ou de aumento da demanda — que na chegada do verão é próximo de 30%. Nosso uso das técnicas Nutrient Film Technique (NFT) e Deep Water Culture (DWC – também conhecido como floating), com as plantações protegidas por estufas, nos permitiu produzir dezenas de toneladas de folhosas por mês, com qualidade e eficiência.
Após a colheita, surge o desafio da entrega. Embalar os alimentos tem se mostrado uma boa solução para mitigar o problema do desperdício, que no Brasil é um tema alarmante: cerca de 30% dos alimentos produzidos são descartados antes mesmo de chegarem às prateleiras. Higienizar os alimentos e embalá-los em porções exatas permite que eles cheguem ao consumidor final em condições ideais, e a praticidade das porções também diminui o desperdício em casa.
Infelizmente, ainda são poucos os produtores brasileiros que podem arcar com os custos do cultivo protegido, da hidroponia e do preparo do alimento antes da distribuição. Isso tudo exige investimentos iniciais elevados e conhecimento técnico especializado. Mas o que este ano nos ensinou é que não podemos depender do clima e da sorte.
A agricultura do futuro será marcada por ciência, tecnologia e práticas conscientes. De acordo com a Grand View Research, o mercado global de agricultura de precisão foi avaliado em US$10,50 bi em 2023 e deve crescer a uma taxa composta de crescimento anual de 12,8% até 2030. Torço para que, daqui em diante, possamos ver, no Brasil, mais investimento público e privado nesse sentido.