Desde o surgimento do ChatGPT – uma poderosa ferramenta de processamento de linguagem natural, capaz de realizar diversas tarefas, interagindo com o usuário e respondendo a uma ampla gama de perguntas e comandos –, muito tem se falado em inteligência artificial (IA) e na adoção dessa tecnologia pelas organizações, bem como no impacto que o rápido avanço e a integração de tal inovação exercem sobre o mercado de trabalho.
No entanto, ainda que a aplicação, lançada há pouco mais de um ano pela startup norte-americana OpenAI, tenha atraído grande atenção – haja vista que, em apenas dois meses, superou a marca de 100 milhões de usuários, alcançando uma média de 13 milhões de visitantes diários –, o fato é que a inteligência artificial já se faz presente em diversas áreas do nosso cotidiano, há algum tempo, seja nos assistentes virtuais ou nos algoritmos de recomendação de conteúdo, por exemplo.
Porém, com a popularização do conhecimento sobre o potencial e a capacidade dos sistemas de IA, tanto para automatizar tarefas rotineiras e repetitivas quanto para melhorar a precisão e a velocidade de processos, reduzindo eventuais perdas ou falhas geradas por erro humano, muitas empresas já têm reformulado suas estratégias orçamentais, operacionais e de contratação, antecipando a transformação do mundo do trabalho e exigindo a capacitação dos profissionais para interagir com as novas aplicações de IA que vêm surgindo.
De acordo com dados do “Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023”, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, a expectativa é de que, nos próximos cinco anos, haja uma rotatividade de 23% nos empregos no mundo todo, entre a criação de novas ocupações e a redução, ou mesmo o desaparecimento, de outras. Levando em conta esse mesmo período, o estudo também aponta que quatro em cada cinco empresas pretendem investir na aprendizagem e no treinamento de seus funcionários, tendo em vista a automação de seus processos.
As carreiras em Tecnologia da Informação não fogem a essa tendência e também se mostram suscetíveis às mudanças significativas que a IA vêm impondo ao mercado de trabalho como um todo. É bem verdade que, ainda segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, os empregos de crescimento mais rápido na atualidade são justamente os de especialistas em IA e machine learning, cuja procura deve aumentar, em média, 30% até 2027.
Se, por um lado, esse movimento tende a ser encarado como algo positivo, uma vez que permite que os profissionais de TI priorizem essas atividades mais estratégicas e de maior complexidade, por outro, é preciso que esses trabalhadores mantenham suas habilidades técnicas constantemente atualizadas, mas também desenvolvam suas habilidades cognitivas e interpessoais, que passam a adquirir um elevado nível de importância em meio a um cenário cada vez mais marcado pela automação.
Novamente, segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, as habilidades mais valorizadas pelos empregadores entrevistados foram os pensamentos analítico (48%) e criativo (43%), dados que refletem o crescimento da importância atribuída à capacidade de solucionar problemas complexos no ambiente de trabalho, envolvendo não apenas sua dimensão técnica, mas também humana.
Em suma, conclui-se que as aplicações de IA não visam substituir o trabalho humano, mas sim contribuir para que este seja mais eficaz, significativo e estratégico. Enquanto as novas tecnologias continuam a remodelar o mercado de trabalho em TI, criam-se também novas oportunidades.
Para aproveitá-las ao máximo, é crucial investir na educação e no treinamento dos profissionais da área, abrangendo tanto habilidades técnicas (hard skills) quanto interpessoais (soft skills), incluindo comunicação, liderança e resolução de conflitos. Todos esses aspectos essenciais e cada vez mais necessários para o sucesso dos negócios na era da transformação digital.
Henrique Florido, Diretor de Estratégia, Inovação & IA da Minsait no Brasil