Neste Brasil ressequido como uma imensa árvore agonizante, é difícil identificar, dentre seus ocos e apodrecidos ramos institucionais, qual deles conserva, ainda, um derradeiro toco de madeira viva.
Essa árvore seca, cujos galhos parecem compor a simbólica figura da morte seminua, em andrajos de mantos negros com farrapos pendentes de seus membros esqueléticos, é o Brasil dos sonhos sepultados com as esperanças mortas de gerações já extintas, e é a Pátria de novas e céticas gerações prematuramente envelhecidas pelo desalento.
Revoando sobre a árvore, em espirais de mau presságio, os corvos necrófagos completam o simbolismo funéreo de um País condenado à extinção, por decisões monocráticas ou coletivas exaradas por força do destino, do azar, da maldição, da praga, da ziquizira, da desdita, da urucubaca, ou de fatores mais concretos, encarnados em formas humanas revestidas de andrajos feitos de mantos negros, capas pretas, farrapos da cor das trevas, exemplares concebidos à imagem e semelhança dos deuses do Olimpo refestelados em seus assentos terrenos, como essas poltronas douradas do plenário do STF, em cuja parede (altar) presidencial (não a parede original, reformada para pior), ousaram conservar a imagem do Cristo morto, onde, de uns tempos para cá, rotineiramente mantêm-no recrucificado diante do calvário onde jazem em permanente agonia o Direito e a Justiça.
Gilmar Mendes, pelos feitos e males feitos, decano exemplar para os tortos como ele, cometeu, ao premiar Dirceu com a medalha judicial do mérito à corrupção, mais uma das indecências e obscenidades recorrentes no tribunal prolator de decisões tomadas pelas mãos esqueléticas da árvore de mantos pretos e andrajosos.
Gilmar “não trabalha com a verdade. Tem mau sentimento. É uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. A vida dele é ofender as pessoas. Não tem nenhuma ideia. Nenhuma. Só ofende as pessoas. É bile, mau sentimento, mal secreto. Envergonha e é uma desonra para o Tribunal. Uma desonra para todos os outros ministros. Tem temperamento agressivo, grosseiro, rude. Ele, sozinho, desmoraliza o Tribunal. É penoso para seus pares conviver com ele. E está sempre atrás de algum interesse que não é o da Justiça. É uma coisa horrorosa”.
Quem disse isso foi o atual presidente do STF, Luiz Roberto Barroso, o prolator da sentença: “perdeu Mané”. Por sinal, Barroso, de certo modo, poderia falar diante do próprio espelho, e dirigir-se, também, a Alexandre de Moraes e a todos os seus colegas, qualificando-se e qualificando-os, pois todos se conhecem muito bem, na intimidade, nos bastidores, e na cumplicidade nos feitos e nos males feitos.
Neste texto, acato a decisão de Barroso. Com relação a Gilmar Mendes, um ministro com um vasto patrimônio, não moral nem intelectual, é óbvio, a decisão de Barroso é definitiva, transitou em julgado. E Gilmar, com a leveza de consciência dos cínicos, proclama: “Tô nem aí”.
Diante da árvore ressequida, uma parte majoritária e hígida da Nação brasileira, sedenta e faminta de uma Justiça quase extinta, está a perder a paciência. E a perderá, mais cedo, ou não tão tarde.