Nós tememos a morte. Na verdade, todos nós vivemos em certo grau de negação, fingindo que é uma ficção.
Ou seja, a morte ocorre com outras pessoas, mas de algum modo, eu serei a exceção à regra.
Ao estudarmos lógica aprendemos a dominar a inferência pelo argumento clássico: Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Porém, Sócrates, o filósofo grego da Antiguidade, poderia não ter tomado o veneno. Ele poderia ter escapado. E talvez eu também possa.
É interessante pensar que o primeiro passo rumo à filosofia é a incredulidade como disse Denis Diderot.
É muito difícil para todos os homens pensarem que são mortais! Afinal, somos compelidos a todo instante a acreditar na necessidade de vivermos eternamente, isto é, a própria dinâmica existencial nos leva a esse enfrentamento.
Buscamos a imortalidade inerente à juventude a cada momento em que vivemos para podermos nos libertar da sensação constante consciente e inconsciente da inevitável morte do corpo físico.
Será que devemos levar a morte tão a sério?
Ou melhor, ela é implacável, ela virá com certeza!
A inevitável, inelutável marcha da morte começa a se tornar visível conforme os anos passam.
E a ilusão da eterna juventude se desvanece!
T.S. Eliot disse: “Eu lhe mostrarei o medo em um punhado de pó”.
As pessoas temem o processo físico e psicológico da morte e não a própria morte como um final.
Como disse Anacársis, poeta grego: “É tortura temer o que você não consegue superar”. Aquilo que é inevitável em nossas vidas, isto é, que está intrinsecamente atrelado à existência humana como a morte, devemos tentar compreender e aceitar.
Por que tememos algo que parece fazer, como tantas outras coisas, parte dos ciclos da natureza?
Existe o medo do processo de morrer, medo da punição após a morte, medo do desconhecido, medo do aniquilamento, medo do tormento psicológico de abandonar e deixar para trás todos, tudo que amam e medo da terrível solidão imposta pelo processo de morrer.
O medo de morrer é natural para quem tenha testemunhado uma morte difícil.
Há pessoas que acreditam na vida após a morte e temem um dia de julgamento moral divino previsto, junto com as punições correspondentes pelo que fizeram nesta vida.
Lamentavelmente, os seres humanos não são moralmente perfeitos e, muitas vezes, abusam da liberdade para cometerem o mal.
E o mal merece punição sob as exigências da justiça perfeita.
Porém, nem sempre o bem floresce na Terra e o mal nem sempre é punido aqui.
Por conseguinte, após a morte deve a justiça prevalecer.
Ou seja, os maus são punidos por seus pecados e os bons são recompensados por suas opções virtuosas.
Então, será que existe um juiz cósmico perfeito?
Voltaire sabiamente disse que o medo se segue ao crime e é sua punição.
Muitos teólogos cristãos contemporâneos abominam o que consideram a promoção do medo de grande parte da pregação do passado sobre a vida além-túmulo.
Mas ao mesmo tempo, devido à maldade e horror do século XXI, alguns filósofos contemporâneos vêm revisitando a doutrina do inferno e suas implicações para fé e moral modernas.
Na realidade, a virtude é sua própria recompensa e o mal é sua própria punição.
Se pensarmos que no universo existe governança pela justiça absoluta, justifica a existência de um medo racional em todos em relação à morte.
É fato que tememos o desconhecido e não a morte em si, pois a cada dia que passa, nós estamos mais próximos dessa passagem para outra dimensão mais sutil.
Então, a morte não é o fim?
Existe uma vida após a morte?
Quem não tem certeza sobre essas questões, sente medo da morte.
Se pensarmos que tudo está em movimento constante, sem cessar, sem encontrar repouso, faz sentido a morte como passagem para outro mundo talvez desconhecido por nós.
O pesadelo do materialista é exatamente o medo do aniquilamento (destruição completa) com a morte!
Ou seja, a morte como aniquilamento!
Uma angústia sem paralelo!
Para aliviar o medo: “Não se preocupe, seja feliz, pois é tão natural morrer como nascer!”.
Nascemos para morrer e para nascer para uma nova vida e assim por diante…
Por isso, somos seres livres!
Seria a morte uma ilusão?
“Quem começa a viver começa a morrer.”
Francis Quarles (1592-1644), poeta inglês.