Livre-arbítrio é o poder que cada indivíduo tem de escolher livremente suas ações e que caminho seguir, portanto, de ser responsabilizado pelos seus atos.
Santo Agostinho (354-430), filósofo, na obra “Livre Arbítrio” diferenciou dois conceitos: a expressão livre-arbítrio e a expressão liberdade. O livre-arbítrio é a possibilidade de escolher entre o bem ou mal; enquanto que a liberdade é o bom uso do livre-arbítrio.
De acordo com a Doutrina Espírita, o livre-arbítrio é uma das propriedades fundamentais inerentes ao Espírito e, consiste em se “ter a liberdade de pensar, e também a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina” (Kardec, 2022, p. 296).
Assim sendo, o livre-arbítrio consiste na liberdade de fazer ou não alguma coisa, seguir um determinado caminho ou evitá-lo.
Ou seja, o livre-arbítrio é desenvolvido juntamente com o desenvolvimento da inteligência e implica responsabilização pelos atos praticados.
O ser humano pelo fato de possuir razão, ou pela capacidade de ser racional, é capaz de escolher entre várias possibilidades.
Livre-arbítrio é o poder de agir de determinada forma, ou deixar de agir, sem nenhuma razão para tal escolha a não ser a própria vontade.
Há momentos em que a margem de atuação do livre-arbítrio é reduzida: quando agimos contra a nossa vontade para cumprir uma obrigação legal ou moral; na ocorrência dos quadros neuróticos e psicóticos; quando o sono é incontrolável; quando estamos sob forte pressão emocional ou sob efeito de hipnose ou lavagem cerebral e quando sob chantagem ou tortura.
Será que somos realmente livres para fazer nossas escolhas ou fatores externos regem nosso destino?
Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista e psicanalista austríaco, afirmou que o inconsciente influi em nosso comportamento de um jeito que não podemos prever.
Para os existencialistas, como o célebre filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), o homem é livre para fazer suas escolhas e deve agir com responsabilidade e assumir as consequências em relação aos seus atos.
Apesar das diversas correntes que apontam ser o livre-arbítrio apenas parcial ou mesmo impossível, é inegável que a discussão sobre o assunto ajudou a humanidade a questionar e até derrubar dogmas e teorias que justificavam o mundo como algo imutável e independente.
Um famoso e polêmico estudo de neurociência do americano Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia, de 1983, diz que o livre-arbítrio é uma ilusão. Ou seja, não existe!
Para o pesquisador, isso indicaria que não temos poder de escolha, não temos livre-arbítrio, já que a decisão ocorre antes de termos consciência.
Novas pesquisas sugerem que o que nós acreditamos serem escolhas conscientes são decisões automáticas tomadas pelo cérebro. A mente seria gerada por esse órgão, que guiado pelo determinismo biológico define quem nós somos.
Para Michael Gazzaniga, coordenador do Centro para o Estudo da Mente da Universidade da Califórnia e um dos maiores expoentes da neurociência na atualidade, pensamos que tomamos decisões pontuais, temos a sensação de que um eu consciente e racional, separado do cérebro, segura as rédeas de nossas vidas. Uma ilusão, segundo ele.
A vitória do livre-arbítrio nunca foi completa na humanidade, pois nunca deixaram de existir aqueles que acreditam que o destino está escrito nas estrelas, é ditado por Deus, pelos instintos, ou pelos condicionamentos sociais (padrão de comportamento de um indivíduo que foi modelado ou influenciado por meio do seu ambiente ou família, escola, emprego, amigos, mídia).
Toda vez que estamos diante de escolhas, dependemos de nossa capacidade de julgamento e, em maior ou menor grau, experimentamos alguma tensão ou conflito. Essa sensação que gera angústia e incômodo tem uma função importante de propiciar uma espécie de gatilho do pensamento que leva a uma decisão.
A liberdade se diferencia do livre-arbítrio pelo fato de que, enquanto a primeira tem sua expressão no mundo externo, o último a tem no interior do indivíduo.
É importante meditar sobre o livre-arbítrio para tomar decisões, para desenvolver a inteligência, a consciência ética e para não ser um alienado na sociedade que só se alimenta da cultura de massa e não pensa.
Talvez a ideia de que existam escolhas totalmente livres seja ingênua, mas os seres humanos imaginam ser livres porque pensam ter consciência das suas vontades e dos seus desejos plenamente. E não pensam sobre suas causas por não terem conhecimento delas.
Enfim, somos livres a ponto de escolher o próximo passo?
“Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Cecília Meireles (1901–1964), jornalista, poetisa e escritora brasileira.