Esta história se passa nos anos 1960, na redação da Gazeta Esportiva, onde eu havia entrado como estagiário antes mesmo de concluir a faculdade de jornalismo. O lendário Thomás Mazzoni, redator-chefe do jornal, tinha mais ideias na cabeça do que habilidade com a sua velha (então nova) Underwood. Por isso ele costumava escrever os seus textos a mão e um dos linotipistas (sim, ainda era o tempo das linotipos) se encarregava de decifrar os seus garranchos.
Não era incomum ele chamar alguém da redação que estivesse desocupado, e então ditava os seus artigos. Também não era incomum que essa missão coubesse a mim, embora eu também não fosse tão esperto assim na máquina de escrever. Mas era uma missão que eu cumpria com alegria e até orgulho, pois estava ao lado de uma das lendas do jornalismo esportivo.
Numa dessas vezes ele ditou um editorial. Não me lembro bem qual era o assunto, sei apenas que era sobre a Seleção Brasileira, que ele já havia acompanhado por quase todas as partes do mundo. Quando ele terminou, eu tirei o papel da máquina, dei uma olhada rápida e entreguei para ele. Thomás Mazzoni me agradeceu como sempre: com um sorriso, um “obrigado” e um tapinha nas costas.
No dia seguinte, com o jornal nas bancas, ele me chamou para apontar uma impropriedade. Tratava-se de uma troca de palavras de sonoridade parecida, mas de sentidos diversos, o que comprometia o entendimento da frase. Algo que eu não percebi na leitura apressada nem ele na revisão final. Thomás Mazzoni foi indulgente comigo, mas observou: “Preparar um texto é como criar um filho, você tem que tratar ambos com cuidado e carinho”.
Foi uma das mais importantes lições que aprendi no jornalismo, e na vida.
O mito e a Underwood. Por Tim Teixeira
Jornalista
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