Quanta falta faz um projeto de desenvolvimento para o país. O terceiro mandato do presidente anda devagar. A sensação é de marasmo. Após um início difícil pelos acontecimentos de 8 de janeiro, o governo parecia que ia deslanchar. A retomada dos benefícios sociais em favor da população mais pobre injetou algum gás na economia, mas logo depois perdeu a aceleração. A tentativa de restabelecer a confiança da população nas instituições do Estado esbarra no baixíssimo índice de confiança (o desmonte da operação lava jato foi um balde de água fria na confiança e não será revertido tão cedo).
De forma que, sem credibilidade e sem dinheiro para gastar, o governo fica patinando no mesmo lugar, o que não é bom para o país. O pouco dinheiro (livre) nos cofres do governo é disputado a unhas com o Legislativo que, para desviar o debate, cria inúmeras fake news na área dos costumes (projeto de proibição do aborto, proibição da maconha e por aí vai).
Sem obter muito sucesso na briga com o Legislativo, o presidente busca as empresas públicas para tentar dar tração no desenvolvimento. Quer que Petrobras e Vale (que já não são mais do Rio Doce, nem estatais) sejam as responsáveis pelo crescimento do país. Não parece que dará muito certo.
É verdade que algumas grandes empresas nacionais exportadoras de commodities (as duas citadas e mais uma dezena de outras) têm sustentado a balança comercial brasileira, mas na falta de produtos de alto valor agregado precisamos vender muito para comprar pouco. Cada celular (ou chip) importado exige a venda de muitas toneladas de minério de ferro. Cada equipamento de tomografia importado exige a venda de toneladas de commodities agrícolas (soja, milho, algodão); e cada plataforma de petróleo alugada no exterior exige a venda de milhares de barris de petróleo.
O Brasil tem evoluído bastante ao longo dos anos, sua agricultura e pecuária estão entre as melhores do mundo, mas perdemos o ritmo de crescimento nas últimas décadas. O dinheiro do mundo foi investido no Oriente, com predominância na China e seus arredores, e o Brasil não se beneficiou muito do último ciclo de crescimento mundial. E isso não é culpa de um único governo, mas de vários.
O país até conseguiu surfar uma onda nos primeiros governos de Lula, graças à infraestrutura financeira construída a duras penas no governo FHC (lei de responsabilidade fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante – a tal “herança maldita”); mas de Dilma em diante, só tivemos desastres.
Falta ao país investimentos em produtos de alto valor agregado. Salvo a Embraer que vende aviões, os demais produtos que exportamos são de baixo valor.
É preciso melhorar a qualificação de nossa mão de obra, investir mais no desenvolvimento de tecnologia, nas áreas da saúde, informática e outras, melhorar a infraestrutura de turismo, e tornar o país um player de peso no mercado internacional. Estávamos crescendo em serviços de engenharia, mas os escândalos de corrupção provocaram rachaduras nos empreendimentos e no setor. As construções não podem ter alicerces frágeis; do contrário, não resistem às tempestades.
O Brasil é um país gigantesco, possui potencial para ser uma das lideranças mundiais, mas para isso precisamos estar no mesmo patamar de conhecimento e tecnologia de nossos concorrentes; isso, ainda, não é uma realidade. Estamos caminhando, mas não no mesmo passo da China, dos Estados Unidos e de alguns outros.
Para acelerar, é preciso que o governo tenha clareza dos objetivos e dos caminhos a trilhar. A globalização deu uma retrocedida nos últimos anos, mas é apenas uma pausa para nova aceleração. As novas tecnologias e o avanço dos meios de transporte, mais rápidos e eficientes, estarão interligando o mundo e as pessoas apesar dos governos. Esse é um caminho sem volta; resta-nos preparar-nos para a concorrência internacional cada vez mais acirrada.