Pode apostar que tem alguém apostando alguma coisa perto de você. Ou em alguma coisa. Ou até em você. Nesse mundo em que tudo virou isso ou aquilo, as torcidas se confrontam por qualquer coisa. Não é por menos que as tais bets vêm causando tantos estragos
Tudo se aposta. Um acha que vai ganhar, e acaba se tornando cabo eleitoral de coisas, inclusive, com as quais não tem a menor relação direta. Só alguma paixão, ou é tinhoso, como encontramos tantos nas redes sociais espalhando mentiras, ataques – se não pensa como eles, inimigo é, não tem conversa. Conflitos na certa, e não faltam temas.
As eleições americanas chegaram até a ser engraçadas, e acabou dando aquela coisa que aqui ninguém acreditava, fuémmmm, embora se repita seguida e historicamente no nosso país: as baratas votando nos sapatos de bico fino que as encurralam pelos cantos. E sempre aparece os videntes: agora teve até um Nostradamus americano que juravam que nunca tinha errado uma previsão, indicando a vitória de Kamala Harris. Não soube mais dele depois do resultado da vitória do dantesco Trump.
E tem os bichos, também, além daqueles mais comuns e pobrezinhos do nosso próprio jogo do bicho. Os que ficam famosos por acertar um resultado aqui e ali, em geral esportivo. Teve o polvo Paul, o elefante Yalu, o porquinho da Índia Shiva, o panda Ying Mei, o gato Aquiles, o polvo Cassandra, o camelo Princess, o porco ucraniano Funtik, e mais um elefante, o Cittá. Não sei porque não há antas famosas, combinaria muito mais.
A verdade é que nos últimos tempos o negócio de apostar se disseminou de tal forma que está incontrolável, principalmente com as tais Casas de Apostas, as Bets, numerosas, com tantos nomes e propagandas que chegam a atordoar. Falta só a “Bet Faria”. Vem do incontrolável desejo humano: ficar rico sem necessariamente muito esforço. O que me faz sempre lembrar de meu pai dizendo “Trabalha não para tu ver se cai do céu”.
O Brasil vive uma epidemia. Gente com renda comprometida. Pesquisa recente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC): por causa das apostas, 19% pararam de fazer compras no mercado e 11% não gastaram com saúde e medicamentos. O país talvez já seja o terceiro maior mercado de apostas do mundo, movimentando só agora em 2024 cerca de R$ 130 bilhões. Há notícias de que beneficiários do Bolsa Família chegaram a gastar R$ 3 bilhões em sites de apostas esportivas, somente no último mês de agosto. Grandes companhias já notificam preocupação com endividamento de seus funcionários e com o jogo no ambiente de trabalho.
Aposta é boa quando se vence. E, igual a drogas, quando se ganha, se quer mais, e aí a coisa vai ladeira abaixo, manipulada pela realidade das partidas sempre indefinidas ou mesmo por algoritmos estranhos. O negócio é sério e está trazendo mais pacientes aos serviços médicos, tentando retomar especialmente a sua saúde mental. Ou suas próprias vidas, famílias, casamentos destruídos. Ao invés de ganhar, perde. E muito.
O governo tomou um safanão com os números e busca melhor regulamentar, embora tarde demais, as tais bets. Mas por lá ainda falam em liberar jogos de azar. Apostam também que arrecadarão mais, como se possível fosse controlar maremotos.
Tudo vira batalha, mesmo sem dinheiro envolvido. Penso que os tais realities também avivam essa mania de concorrer, de acertar, de tentar prever, e ganhar. Os números das pessoas que votam para eliminar participantes são sempre estratosféricos. Já houve em um BBB passado estouro de fogos quando um indesejado foi mandado para fora. É impressionante. Torcidas são impressionantes.
Agora, quer apostar? Vamos passar dias ouvindo conjecturas sobre geopolítica mundial, se o resultado lá vai beneficiar aquele outro aqui, o que vai sair daquela cabeça.
Vai ter logo logo até aposta nova em assunto antigo: quem vai matar Odete Roitman na novela Vale Tudo reformulada?