Na eleição presidencial dos Estados Unidos, Donald Trump voltou à Casa Branca após vencer Kamala Harris, rompendo uma sequência de governos democratas e reacendendo o discurso de políticas que marcaram seu primeiro mandato. Com uma vantagem ampla no colégio eleitoral e no voto popular, o republicano conquistou 277 delegados, garantindo vitórias decisivas em estados-pêndulo como Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia.
Trump deu sinais claros de que seu foco estará na economia, enfatizando a reindustrialização do país, o corte de impostos corporativos e incentivos à produção nacional. Essas políticas são vistas como um esforço para corrigir o que ele e seus apoiadores consideram como os erros de globalização dos últimos anos, que teriam afetado a competitividade e gerado dependência de outras nações, especialmente a China. Ao sinalizar um modelo econômico mais protecionista, ele busca garantir que os empregos permaneçam em solo americano, o que se traduz em apoio entre os trabalhadores industriais e comunidades afetadas pela automação e transferências de fábricas para o exterior. A perspectiva de uma “era dourada” com Trump na presidência, para muitos americanos, representa uma promessa de estabilidade econômica, melhores salários e incentivos para pequenas e médias empresas.
Porém, essa postura protecionista pode trazer desafios para o comércio exterior, com o possível retorno de tarifas a produtos estrangeiros que impactem diretamente parceiros econômicos, como o Brasil. O Brasil exporta uma série de commodities para os Estados Unidos — como aço, soja e carne — setores que podem ser afetados pelas novas políticas tarifárias americanas. Durante o primeiro mandato de Trump, houve um aumento de tarifas sobre o aço brasileiro, e com sua reeleição, pode haver uma renovação ou intensificação dessas barreiras, caso as políticas de proteção à indústria nacional se tornem prioritárias. Esse cenário pode levar o Brasil a buscar alternativas de mercados para escoar seus produtos ou adaptar-se às exigências do novo governo americano para continuar competitivo.
Para o Brasil, a vitória de Trump representa um cenário desafiador, mas também de oportunidades em setores específicos. A forte dependência americana por commodities, um dos principais produtos de exportação do Brasil, ainda poderá servir como ponto de cooperação, embora esteja sujeito à política de cotas e regulamentações tarifárias. Além disso, Trump poderá estabelecer acordos pontuais em setores onde vê benefícios econômicos mútuos, como o agronegócio e energia. Nesse aspecto, a relação entre Estados Unidos e Brasil pode ter alguns avanços, especialmente em temas relacionados à segurança alimentar e à estabilidade da cadeia de suprimentos.
O impacto do retorno de Trump para a economia global também deve ser observado com cautela. Suas promessas de endurecimento nas negociações com a China podem intensificar disputas comerciais, o que afetaria os mercados de insumos e produtos tecnológicos — de grande importância para a indústria brasileira. Já os planos de incentivo à energia fóssil e redução dos compromissos com o meio ambiente podem impactar o comércio internacional em áreas como biocombustíveis, uma das exportações importantes do Brasil para os Estados Unidos. A postura menos rígida de Trump em relação às questões ambientais poderá influenciar a política ambiental de países parceiros, flexibilizando os compromissos de transição energética e abrindo espaço para um relacionamento estratégico nas áreas de energia e mineração.
Por fim, Trump retorna em um momento de profundas divisões políticas nos Estados Unidos. Com a promessa de unir o país, ele expressou em seu discurso o desejo de “curar a nação”. No entanto, sua retórica polarizadora e polêmicas sobre imigração indicam que o caminho para uma “era dourada” ainda enfrenta barreiras, e a polarização continuará a moldar a sociedade americana. Para o Brasil, será crucial entender como o governo Bolsonaro ou seu sucessor poderão aproveitar, ou mitigar, os efeitos das novas diretrizes econômicas e diplomáticas de Trump, adaptando a relação bilateral para evitar potenciais impactos negativos e aproveitar os benefícios que possam surgir.
Em síntese, o retorno de Trump marca um novo capítulo na política americana e traz implicações que repercutirão tanto no cenário doméstico quanto no internacional. A promessa de prosperidade contrasta com os desafios econômicos que o país e seus parceiros, como o Brasil, enfrentarão, enquanto a abordagem de Trump reforça a complexidade de seu mandato. Resta observar como essa nova administração responderá aos desafios contemporâneos e se será capaz de concretizar suas promessas de uma era de estabilidade e crescimento, respeitando os interesses de parceiros comerciais, como o Brasil.